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Bispo-prefeito quer destruir o carnaval do Rio

Nov 04, 2017

Por Bepe Damasco                                                                          

 

Dorival Caymmi registrou para a posteridade no Samba da Minha Terra : “Quem não gosta de samba bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente do pé.”  E a cabeça ruim, retrógada e fundamentalista do bispo neopetencostal, e dublê de prefeito do Rio, Marcello Crivella, é hoje a maior ameaça ao desfile das escolas de samba do Rio e ao carnaval como um todo.

Faltando cerca de 100 dias para o carnaval, o desespero começa a tomar conta dos responsáveis pelo desenvolvimento do enredo das escolas. Agindo como líder religioso, e não como prefeito de uma cidade que tem no carnaval sua maior festa popular e traço cultural marcante, Crivella reduziu à metade a subvenção às escolas do Grupo Especial, de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão, dividido em duas parcelas. Se depender do bispo, está condenado à morte por inanição o valioso produto de exportação do Rio, fator de atração de recursos e geração de emprego e renda.

Até agora, porém, as escolas só receberam R$ 450 mil e esperam pelo cumprimento da promessa da prefeitura de depositar o restante até o fim do ano. Ainda mais dramática é a situação das escolas do Grupo A, que desfilam na Marquês de Sapucaí nas noites de sexta e sábado, para as quais o repasse da prefeitura não chegou nem a um terço do valor acertado. Já as agremiações dos grupos B, C, D e E, que se apresentam na Estrada Intendente Magalhães, estão completamente entregues ao Deus dará, pois não terão tiveram acesso até o momento a um níquel sequer. Imagina, então, a penúria dos blocos.

Voltando ao Grupo Especial, para piorar sensivelmente as coisas, o Ministério do Trabalho do governo golpista de Temer, o mesmo que editou recentemente uma portaria para beneficiar os criminosos que exploram o trabalho escravo no Brasil, depois de uma estranha blitz, interditou a Cidade do Samba, sede dos barracões de todas as grandes escolas. Se existem irregularidades de ordem trabalhista, elas devem mesmo ser coibidas, mas uma investida como essa partindo de um governo antipovo e antitrabalhador como o do Temer, convenhamos que é pra lá de esquisita. 

Dia desses o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, definiu em entrevista o momento vivido pelas escolas como “torturante”, uma vez que é impossível adotar um  mínimo de planejamento, restando o apelo exagerado ao improviso. Há um consenso entre as escolas de que o carnaval de 2018 será o mais difícil de todos os tempos.

O atraso recorde na confecção das fantasias e na construção dos carros alegóricos devido à falta de dinheiro e ao fechamento dos barracões têm obrigado os carnavalescos e responsáveis pelas comissões de frente a redesenhar e empobrecer figurinos e efeitos especiais, afetando, é claro, a qualidade de um desfile que é considerado por muitos “o maior espetáculos da Terra.”

A desculpa do bispo Crivella para o corte abrupto das verbas das escolas, segundo a qual o município atravessa grave crise financeira, bem como o estado e o país, não resiste a um sopro de bom senso. Caso seu obscurantismo e sua escala obtusa de valores permitissem, a diminuição dos recursos destinados ao carnaval se daria de forma gradual e planejada junto às escolas. Assim, as escolas ganhariam um tempo para garimpar novas fontes de financiamento. A tunga jamais poderia ter acontecido numa penada só. Que sirva de lição para os dirigentes da Liga e presidentes das escolas que, movidos por um reacionarismo atávico ou por preconceito contra a esquerda, apoiaram o bispo para prefeito. Agora quem paga a conta é a Cidade Maravilhosa.

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