Nem na República Velha, ou Primeira República como preferem alguns historiadores, o parlamento brasileiro desceu a um nível tão baixo.
Cobrar um mínimo de vergonha na cara e decência a deputados que ao votarem pela deposição de uma presidenta eleita com 54 milhões de voto invocam a Deus e suas famílias seria perda de tempo.
Afinal, o que esperar de uma safra de deputados formada por um grande número de corruptos e e criminosos de todos os matizes ? Essa gente é e será sempre incapaz de entender o que significa soberania popular. Por isso, não hesitam em fraudar a vontade do povo expressa nas urnas
Só um sistema político doente e apodrecido como o nosso é capaz de permitir que tantos analfabetos políticos e imbecis ostentem a condição de representantes do povo e se julguem no direito de agredir a cidadania, operando como um colégio eleitoral golpista.
Agora, a sorte está lançada. A decisão infame da maioria dos deputados de rasgar a Constituição terá sérias consequências para o país. O rompimento do pacto da institucionalidade por parte da burguesia brasileira trará para a cena política a luta de classes na sua forma mais nua e crua.
Imaginar que o enorme capital político acumulado pelas gigantescas manifestações que tomaram conta do país em defesa da democracia não terá desdobramento imediato no sentido da radicalização da luta é não enxergar a realidade.
Trabalhadores, mulheres, negros, indígenas, quilombolas, sem-terra, sem-teto, estudantes, LGBTs, professores, estudantes, acadêmicos, juristas, advogados, reitores de universidades, escritores, artistas, cineastas, teatrólogos e demais forças vivas da nação que se batem pela legalidade não baixarão a guarda por conta do apoio da Câmara dos Deputados ao golpe de estado.
Claro que ainda falta a votação no Senado. É certo também que o governo recorrerá ao STF para questionar o absurdo que representa um impeachment sem crime de responsabilidade comandado por um desqualificado como Eduardo Cunha, réu em inúmeros casos de corrupção e exemplo acabado do que há de mais podre na política.
Mas os golpistas que se preparem. O golpe não será um passeio no parque. Eles não terão um dia sequer de trégua. Se Temer assaltar mesmo o poder, sem voto e sem legitimidade, cabe aos democratas travar uma luta diuturna pela sua derrubada.
Partidos, centrais sindicais e entidades que lideram a resistência democrática devem se preparar para emitir notas não reconhecendo o governo tirano que se anuncia. A partir daí não há saída fora da insubmissão completa até que o governo usurpador se esfarele, como defendeu recentemente em artigo o sociólogo Vladimir Safatle.
Golpistas e fascistas não passarão.