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A vaquinha e o odioso dois pesos e duas medidas

Jul 31, 2023

Por Bepe Damasco                                                                                            

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Depois de uma pesquisa cuidadosa nos portais da imprensa comercial na internet, constato (no fundo, sem surpresa) que sumiu do noticiário mais um episódio deplorável protagonizado pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro.

Restou varrido para debaixo do tapete, sem qualquer cerimônia, o fato de Bolsonaro ter pedido à legião de adeptos da extrema-direita nativa que o venera, e também aos otários e trouxas que existem às pencas no Brasil, doações via PIX para pagar multas impostas pelo governo de São Paulo, quando o então presidente fazia letra morta das normas sanitárias em vigor para conter a pandemia.

Além de não pagar nenhuma multa e se jactar disso, Bolsonaro, bem ao seu estilo canalha-delinquente, ainda se sentiu encorajado para debochar dos milhões de brasileiros castigados pela fome ou por algum nível de insegurança alimentar dizendo que os R$ 17 milhões arrecadados davam para “tomar um caldo de cana com a Michele.”

E o escárnio não ficou por aí: informou ainda que investiu a montanha de dinheiro em CDBs, papéis corrigidos pela Taxa Selic, atualmente em 13,75%, devido à gestão à frente do Banco Central de Roberto Campos Neto, um bolsonarista de carteirinha.

Impossível não traçar o seguinte paralelo especulativo: vamos imaginar que Lula, na época em que era caçado pela Lava Jato, que lhe impunha multas milionárias no bojo das condenações, lançasse uma campanha de contribuições (até aí nada demais), mas, depois de arrecadado o dinheiro, se vangloriasse de que não o usou para acertar contas com a justiça, e sim para seu enriquecimento pessoal.

Com toda a certeza o mundo desabaria sobre sua cabeça e de seu partido. E não seria coisa para dois ou três dias de algum destaque nas manchetes, mas de um fogo cerrado inclemente, no qual o mínimo que se cobraria seria a devolução do dinheiro.

Bem sei que se trata de um assunto complexo, pois o cidadão tem direito de doar dinheiro para quem quiser. Todavia, cabe um alerta à Polícia Federal, Receita Federal e ao Ministério Público: não estaria configurado nessa vaquinha de Bolsonaro um caso típico de apropriação indébita, de desvio de finalidade e, consequentemente, de estelionato?

Por outro lado, é assustador que um sem número de pessoas no Brasil se disponha a financiar, sem nenhum senso crítico, as tramoias e trambiques de um líder fascista, que prega os piores valores e responde a dezenas de processos na justiça.  

Fica difícil acreditar na construção de uma nação justa, inclusiva, solidária e soberana quando uma parcela considerável da população “não vale o que o gato enterra.”

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