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Vingança como política de segurança é barbárie

Set 19, 2023

Por Bepe Damasco                                                                                         

Foto: Reprodução/Internet                                                                                                           

Noite de 14 de setembro, quinta-feira da semana passada. Uma unidade da Polícia Militar do Recife recebe uma chamada do disque-denúncia dando conta de que haveria pessoas armadas em cima da laje de um imóvel, no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, município da Grande Recife.

Chegando ao local dois policiais são baleados na cabeça e morrem. Nunca é demais cobrar a punição exemplar, na forma da lei, do autor ou autores desse crime e deplorar a morte do soldado Eduardo Roque Barbosa, de 33 anos, e do cabo José da Silva, 38, além de expressar sentimentos e solidariedade aos seus familiares, amigos e colegas de corporação.

Contudo, em uma sociedade minimamente civilizada, de forma alguma a perda desses dois agentes do Estado pode justificar a matança e a selvageria que se seguiu.

No dia seguinte pela manhã, Alex Silva, um suspeito de assassinar os PMs, foi localizado e, segundo a imprensa, trocou tiros com a polícia e foi morto.

Ainda no dia 15/09, três irmãos do suspeito, sem qualquer indício de participação no crime que vitimou os dois policiais, foram executados por homens encapuzados, no mesmo bairro de Tabatinga.

Mas as ações de extermínio da família do suspeito não ficariam por aí. Horas depois, a mãe e a esposa de Alex Silva foram encontradas mortas em um canavial, na cidade de Paudalho, na também na Grande Recife.

Saldo funesto da chacina inspirada na aplicação radical e ampliada da “Lei de Talião” (dente por dente, olho por olho): cinco pessoas da família de um acusado de matar os PMs assassinadas pelo simples fato de serem seus parentes.

Lembra o modus operandi das máfias de todos quadrantes do planeta ao longo da história, que não hesitavam em matar parentes de seus inimigos e rivais nas atividades criminosas.

Que futuro pode ter como nação um país em que parcela expressiva da sociedade apoia o extermínio de seres humanos, em sua esmagadora maioria pretos, pobres e moradores de favelas e bairros periféricos? 

É chocante constatar como se alastra pelo Brasil a eliminação física com base pura e simplesmente na vingança, perpetrada pelas forças de segurança pública. Em vez de ações de inteligência, prisões, devido processo legal, direito de defesa e, se for o caso, condenação, pena de morte à margem da lei.

Vale lembrar que na Operação Escudo, levado a cabo pela PM de São Paulo, na Baixada Santista, desencadeada depois do assassinato de um policial da Rota, 27 pessoas foram mortas. Mesmo na lógica criminosa e medieval de se fazer justiça com as próprias mãos, a desproporção dos mortos é monumental: um PM versus 27 suspeitos

Isso tem acontecido com frequência no Rio de Janeiro, na Bahia em diversos estados. E não há no horizonte sinais de que esse quadro trágico possa ser revertido. Ontem, assisti uma entrevista de Marcelo Werner, secretário de segurança pública da Bahia, estado que ocupa o topo do ranking em termos de letalidade policial.

Embora tenha sido espremido pelos jornalistas, Werner se revelou incapaz de fazer uma pálida autocrítica sequer sobre os resultados mórbidos da atuação das polícias chefiadas por ele. E mais preocupante: o teor da entrevista do secretário de segurança de um governo estadual petista seria facilmente endossado pelos seus pares dos governos de direita e extrema-direita do Rio, de São Paulo e Minas Gerais.

 

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