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A tempestade perfeita e o cerco ao governo

Fev 17, 2025

Por Bepe Damasco                                                                                                 

Foto: Tânia Regoa/Agência Brasil

As análises de algumas figuras públicas do PT e aliados sobre a queda vertiginosa da aprovação do governo federal, na última pesquisa Datafolha, apontam como principal causa uma "tempestade perfeita", formada pelo aumento dos preços dos alimentos, a subida do dólar (que já recuou de forma considerável) e a maior fake news de todos os tempos, a do PIX.

Embora toque em pontos cruciais e que realmente impactaram no crescimento da desaprovação ao governo, o problema dessa avaliação é que ela se limita a fatores eventuais e passageiros, quando também há causas mais estruturais que, pelo visto, o governo teima em não enxergar. 

O massacre midiático incessante, por exemplo, é sem dúvida um dos elementos importantes do cerco ao governo que não vem merecendo a atenção devida. Canais de noticias 24 horas, como a GloboNews, dão tratamento editorial até às notícias mais banais, promovendo um autêntico vale tudo para desgastar Lula e seu governo.

Tudo é culpa do Lula, da falta de segurança nas cidades à ganância de empresários que não param de remarcar preços; das secas às enchentes; das doenças tropicais que há séculos fazem estrago no Brasil à negativa das pessoas em se vacinar. 

No jogo pesado da manipulação, Lula e seu governo são taxados ora de frouxos por optarem pelo caminho da moderação diante das tarifas de Trump, ora como radicais quando Lula ameaça retaliar os EUA.

Não é jornalismo, é militância política de direita.

E o governo assiste a tudo passivamente, enquanto o sentimento popular "quem cala consente" avança. Claro que não se pode cercear a liberdade de expressão e a Globo, embora viole pilares  básicos do bom jornalismo, tem o direito de seguir com sua cobertura politizada e parcial. 

O que espanta é o governo não esboçar nenhum movimento para disputar a narrativa da agenda política e econômica do país diariamente com o imprensa comercial. Sem querer ser chato, mas já sendo, uma vez que já escrevi sobre isso neste espaço zilhões de vezes, repito a pergunta: por que Lula não nomeia uma porta-voz, para encontrar com os jornalistas todas as manhãs e contestar as visões distorcidas e manipuladas da mídia a respeito dos fatos do momento e até se antecipar a elas?

É importante fazer um diagnóstico amplo e reconhecer que o cerco ao governo, que produziu o resultado do Datafolha, é poderoso e envolve, além da imprensa, empenhada até a raiz dos cabelos em impedir que Lula seja reeleito em 2026, a Faria Lima, o agronegócio, a extrema-direita com sua máquina de fake news, as bigtechs e agora Trump, além das igrejas neopentecostais. 

Isso sem falar na maioria reacionária do Congresso Nacional e no expressivo contingente de brasileiros irremediavelmente imbecilizados, capazes de acreditar nas mentiras mais toscas e grosseiras disseminadas nas redes pelos fascistas. 

O jogo, portanto, não é para amadores. Já passou da hora de se combinar as realizações de governo (na minha opinião, Lula 3 é a gestão petista que mais entregou resultados em dois anos de mandato) com a adoção de uma linha de ação de confronto político com a extrema-direita.

São bem-vindas as medidas em benefício do povo, programadas para acontecer em breve, como o gás de graça para as famílias de baixa renda, o empréstimo consignado para trabalhadores da iniciativa privada e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil reais. No entanto, sumirão na poeira, se o governo não entender que não vivemos tempos de paz e que cada ação sua deve ser instrumento de disputa política.

A denúncia de Bolsonaro pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por golpe de estado pode ser uma grande oportunidade para acuar os extremistas de direita. Aqui não cabe moderação, o negócio é empurrá-los precipício abaixo mesmo. 

Outro ponto essencial para que o governo consiga sair das cordas é o preço da alimentação. O que li e ouvi até agora em termos de ideias para reverter o quadro são claramente insuficientes para mudar o humor das pessoas.

Sabemos todos que a carestia é um problema complexo. Experiências anteriores mostram que saídas heterodoxas, como o tabelamento de preços, acabam piorando a situação e provocando desabastecimento.  

Mas, por outro lado, é uma doce ilusão imaginar, como alguns ministros, que apenas a queda do dólar e a supersafra que está a caminho tenham o condão de derrubar os preços a ponto de reverter o desgaste do governo. É que os preços subiram tanto, especialmente no governo Bolsonaro, que se caírem apenas um pouco não será suficiente para melhorar a popularidade do governo.

É preciso que os preços sejam reduzidos a um patamar que caiba no orçamento das pessoas, ou seja, que faça a diferença no bolso do consumidor. Vejamos o caso do café: antes da pandemia, um pacote de meio quilo custava em torno de R$ 9. Agora custa R$ 31 ou R$ 32. De nada adiantará, por exemplo, cair para R$ 30.

Não sou especialista no assunto, mas não seria o momento de se apostar na volta dos estoques reguladores em larga escala? Ou em um esforço concentrado, e não apenas uma ou outra medida tópica, para turbinar a agricultura familiar? O abrandamento de tarifas de produtos importados que estejam mais caros no mercado interno é outra boa iniciativa.

Cabe ao governo usar a criatividade para conter os preços. O fato é que boa parte da sociedade comprou a versão de que Lula é o culpado pela carestia. 

Estão fazendo falta, por outro lado, mobilizações dos movimentos sociais contra a anistia para golpistas e pelo fim da jornada de trabalho 6 x 1. 

Penso que existe clima para se botar o bloco na rua. Pelo menos, é importante tentar. 

 

 

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