FOTO: RAUL SPINASSÉ/ ARQUIVO MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST, completa nesta segunda-feira (22) 40 anos de fundação como “exemplo e inspiração de organização nacional política e popular.” A afirmação é da secretária de Mobilização e Relação com os Movimentos Sociais da CUT, Rosalina do Socorro.
“O MST consegue fazer mobilização efetivamente de massa, manter sua participação dentro do processo de lutas, de forma coordenada em todo território nacional. Isso é muito desafiador, e eles fazem com louvor”, afirma Rosalina.
Segunda a secretaria, a agenda de construção de lutas dos trabalhadores e trabalhadoras passa por uma relação de amizade e companheirismo com os sem-terra, cuja “atuação pautada pela posse da terra defende os direitos mais elementares da classe trabalhadora”.
O movimento popular mais longevo do Brasil
Há exatos 40 anos, na cidade de Cascavel (PR), pouco menos de 100 pessoas participavam do encontro que fundaria o movimento popular camponês mais longevo da história do país e um dos maiores da América Latina, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
O MST está organizado em 24 estados, com 185 cooperativas, 1,9 mil associações, 120 agroindústrias, cerca de 400 mil famílias assentadas e outras 70 mil vivendo em acampamentos.
O caldo que deu as bases para a fundação do MST foi o das lutas pela redemocratização na virada das décadas de 1970 e 1980, com ocupações de latifúndios feitas por agricultores no Rio Grande do Sul.
Inspirados em experiências anteriores, como a das Ligas Camponesas e do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), os criadores do MST definiram que ele seria nacional e teria três objetivos: a luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação social.
No 1° Congresso Nacional, em janeiro de 1985, os sem-terra decidiram atuar sob os lemas "Terra para quem nela trabalha" e "Ocupação é a única solução". Cinco meses depois, 2,5 mil famílias participaram de 12 ocupações de latifúndios improdutivos em Santa Catarina.
Pouco depois, o movimento enfrentaria a sua década mais sangrenta, mas também aquela em que se fez conhecer pelo Brasil. Se a violência no campo esteve presente ao longo dos 40 anos do MST, o período entre 1995 e 2010 é aquele em que a conjugação Estado, milícia e latifúndio se revela.
O massacre de Eldorado do Carajás, que fez do 17 de abril o dia mundial de luta pela terra, é o mais emblemático destes episódios.
No entardecer daquele dia de 1996, cerca de 1,5 mil sem-terra chegavam ao local conhecido como Curva do S, no sudoeste do Pará. Caminhando já há uma semana, pretendiam ir até Belém para reivindicar ao Incra a desapropriação de uma fazenda. Nunca chegaram.
Cercados e atacados por 155 policiais militares, 21 camponeses foram assassinados e 79 ficaram feridos. A comoção com o ataque, que teve cenas televisionadas, foi imensa. O debate sobre a reforma agrária tomou o centro da agenda política do país.
Em 1997, três marchas simultâneas convocadas pelo MST saíram de pontos diferentes do país e caminharam por cerca de dois meses até chegar a Brasília no dia em que o massacre completou um ano, numa confluência de cerca de 100 mil pessoas.
Naquele 17 de abril de 1997 foi lançado o livro de fotos Terra, de Sebastião Salgado, sobre luta pela terra, com uma apresentação do escritor português José Saramago e acompanhado por um CD de Chico Buarque.
Os três artistas doaram os direitos autorais do trabalho ao MST que, com o dinheiro arrecadado, construiu a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).
Outra virada na história do MST aconteceu em 2014. A agroecologia – modelo de agricultura baseado em princípios ecológicos e relações socialmente justas, sem uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos ou sementes transgênicas – já vinha sendo incorporada pelo movimento desde o início dos anos 2000.
Foi no último congresso, no entanto, que o MST consolidou o entendimento de que o enfrentamento ao agronegócio é, para além da disputa pelo pedaço de chão, uma disputa de modelo, sobre como se trabalha naquela terra.
Este texto reproduz parcialmente a reportagem da jornalista Gabriela Moncau, publicada no Brasil de Fato, que pode ser lida na íntegra aqui.