O jornalista Ricardo Feltrin fez uma grave denúncia nesta semana - reforçando antigas suspeitas que circulam entre os especialistas em tevê no país. Ele revelou em sua coluna no UOL que "os primeiros dados apurados pela empresa alemã GfK, que começou a medir o público da TV brasileira, apontam que a audiência de emissoras como Record e SBT é maior do que a registrada até hoje pelo Ibope".
A denúncia impacta os anunciantes privados, que sempre se basearam no Ibope para investir bilhões em publicidade. Mais do que isto. Ela incomoda o governo federal, que nos últimos 12 anos repassou quase R$ 6 bilhões para a Globo. Houve fraude do Ibope - já batizado de Globope - para beneficiar a famiglia Marinho? Não seria o caso de instalar uma CPI para apurar a fraude com recursos públicos?
De acordo com a matéria, postada na segunda-feira (28), "o UOL teve acesso a algumas observações feitas após as primeiras medições da GfK. A primeira leva de dados consolidados só deverá ser divulgada na próxima semana pela empresa às emissoras que assinaram seu serviço (Record, SBT e RedeTV!)... A metodologia alemã já teria observado que o SBT, por exemplo, tem mais audiência matinal e à tarde do que a medida atualmente pelo Instituto Ibope. Segundo os dados iniciais da GfK, a Record também tem mais público na faixa da tarde e à noite do que os números atuais medidos pelo Ibope".
A suspeita de fraude na medição da audiência é antiga. Já foram feitas inúmeras denúncias de que o Ibope, até recentemente presidido pelo empresário-trambiqueiro Carlos Montenegro, inflava os dados para beneficiar o seu maior contratante. Diante das suspeitas, as outras emissoras decidiram enfrentar o monopólio do Ibope e contrataram a GfK no ano passado. A famiglia Marinho jogou pesado e sujo para sabotar a concorrência, mas foi derrotada pelo "pool" formado por Record, SBT e RedeTV!.
Ainda segundo reportagem, "a empresa alemã também está encontrando diferenças (em relação ao Ibope) entre algumas faixas etárias e sociais. Segundo fontes ouvidas por esta coluna (que pedem anonimato), essa discrepância captada em medições iniciais pode indicar que a metodologia utilizada pela GfK seria mais completa e ampla que a usada atualmente. A empresa alemã teria contemplando 'significativas mudanças' nos estratos sociais ocorridos especialmente nos últimos dez anos".
Ricardo Feltrin conclui: "Ainda é cedo para saber como emissoras, mundo publicitário e, em especial, os anunciantes irão reagir aos novos dados de audiência medidos pela GfK, mas é óbvio que eles serão analisados detalhadamente e com atenção. Embora muita gente acredite que uma segunda empresa medindo audiência pode servir apenas para criar confusão no mercado, alguns especialistas acreditam que é justamente o oposto disso: que eventuais discrepâncias que a GfK identificar também podem servir para aprimorar ainda mais estratégias publicitárias e de anunciantes na TV".
A própria entrada da GfK no mercado de pesquisas, rompendo o antigo monopólio, já parece ter seus efeitos no Ibope. A concorrência obriga o suspeito instituto a mudar de atitudes e a tentar ajustar seus índices para evitar a total desmoralização - e, inclusive, a rigorosa apuração sobre suas manipulações. Segundo informa a jornalista Keila Jimenez, do site R7, o Ibope finalmente decidiu quebrar o sigilo de suas pesquisas e liberar os dados da audiência - uma antiga reivindicação das rivais da Globo.
"Em decisão inédita, o Ibope passará a divulgar a audiência da TV aberta e TV paga, semanalmente, em seu site. As análises da audiência estarão à disposição no www.ibopemedia.com... É a primeira vez em mais de 70 anos que o Ibope abre esses dados... A novidade embarca em uma prática comum em outros países, onde atuam na aferição de audiência o instituto Nielsen e instituto GfK. O segundo, por sinal, chegou ao Brasil para concorrer com o Ibope e promete divulgar seus primeiros índices de aferição de audiência no país no próximo mês... Por aqui, o Ibope sempre fez jogo duro com relação a liberação de números publicamente e chegava a questionar clientes quando esses divulgavam dados de pesquisas. Há até uma cláusula de confidencialidade na maioria dos contratos. A disponibilização desses dados mostra que a política do Ibope está mudando".
Estes fatos confirmam que seria saudável para o país a convocação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as possíveis distorções no mercado publicitário. Afinal, bilhões de reais fluíram para a poderosa Rede Globo com base em pesquisas sob suspeita. Em certo sentido, os cofres públicos podem ter sido assaltados. Será que a mídia privada, que adora uma CPI, topa averiguar esta sujeira? Será que os parlamentares, muitos deles metidos a vestais da ética, aceitam enfrentar a Rede Globo? Será que a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República vai reavaliar os seus critérios "técnicos" de publicidade, que só ajudam a alimentar cobras? A conferir!