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Versus:arte, literatura e cinema contra a ditadura militar

Mai 31, 2018

Por Ópera Mundi                                                                                            

Um jornal que politizava a cultura e tratava a política por um viés cultural, elaborado em uma redação que abrigou militantes perseguidos pela ditadura civil-militar brasileira, que serviu de berço para o nascimento do Movimento Negro Unificado (MNU), para a estreia do jornal feminista Nós, Mulheres e como ponto de encontro para inúmeras reuniões em busca da democracia. Esse era o Versus: criado e dirigido pelo jornalista gaúcho Marcos Faerman, o jornal abria os olhos e as páginas para a América Latina e criticava a ditadura de maneira fina e inteligente.

Fundado em 1975, o Versus se propunha a debater a conjuntura política do Brasil e de outros países latino-americanos utilizando as artes, a literatura, música e cinema. Reunindo grandes autores contemporâneos como Pablo Neruda, Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano e Julio Cortázar, o jornal trazia histórias de heróis como Simon Bolívar e José Martí, estampadas em capas coloridas, com desenhos de alto nível e ensaios fotográficos.

Natural de Porto Alegre, Faerman já era um jornalista experiente e premiado quando iniciou a aventura de montar o Versus. Começou a carreira no gaúcho Última Hora e, por mais de 20 anos, trabalhou como repórter no extinto Jornal da Tarde, onde recebeu, em 1974, o Prêmio Esso de jornalismo. Militante do movimento estudantil, membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e um dos fundadores do POC (Partido Operário Comunista), Faerman gostava do confronto político e queria fazer do Versus um ponto de partida para a pluralização da ideias e da resistência contra os militares.

Assim, em 1977, quando a jornalista Neusa Maria Pereira leva para o Versus um manifesto que ela havia escrito sobre a discriminação sofrida pela mulher negra no Brasil, o editor do jornal vê ali uma oportunidade de disseminar ainda mais o debate sobre a resistência e dar voz a todos os grupos que estivessem participando da luta democrática.

Afro Latino América

“Quando eu levei o manifesto lá, eles me convidaram para montar uma seção dentro do jornal que discutisse e cobrisse a causa negra no Brasil e na América Latina”, conta Neusa. A jornalista então convidou seus amigos de militância para darem início ao Afro Latino América, espécie de suplemento dentro do Versus que dava destaque à causa negra e combatia a noção falaciosa, criada pelo governo militar, de democracia racial.

Para a jornalista, uma das fundadoras do MNU (que começou com reuniões no porão da redação do jornal), a atitude de Faerman e dos editores do Versus, de cederem as páginas do jornal para o Afro Latino América, “foi altamente revolucionária, inclusive dentro da esquerda que, naquela época, não enxergava a luta dos negros como parte da revolução”.

Dos panteras negras aos quilombos brasileiros, da discussão do 13 de maio aos debates teóricos, o Afro Latino América não poupava esforços em se debruçar sobre as questões caras ao movimentos negro e enfrentar a ditadura militar. “Nós estávamos fazendo isso há 40 anos. Fomos abraçados pelo Versus, que nos forneceu uma base teórica muito grande e nos colocou em contato com uma literatura muito importante”, lembra Neusa.

Por dentro do Versus

Além de fundar e dirigir o periódico, Faerman colaborou com o carioca O Pasquim, e ajudou a criar o jornal Ex, publicação irreverente inspirada em jornais internacionais. Para Rachel Moreno, colaboradora do Versus durante dois anos e fundadora do jornal feminista Nós, Mulheres, a importância do Versus e de Faerman para a imprensa alternativa brasileira foi “gigantesca”. “Marcão era uma figura muito inteligente, um visionário. Um grande jornalista, com um texto impecável”, lembra a jornalista.

Vizinha da redação do jornal, Rachel descobriu que o Versus funcionava na rua de cima onde morava e começou a frequentar o local, assim como muitos estudantes, artistas e intelectuais da época. “Eu me lembro de encontrar passeando por lá o Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Chico Buarque e muitas outras personalidades da época, o que mostrava que o Versus não era só um jornal, era um foco de resistência democrática”.

A publicação bimestral ganhou as bancas também por sua proposta estética inovadora, que trazia desenhos nas capas coloridas impressas em papel couchê, ensaios fotográficos de cunho político e outros recursos gráficos que ganhavam muito destaque no Versus com cartunistas como Chico e Paulo Caruso, Angeli e Luiz Gê. Em sua melhor fase, em 1977, o jornal chegou a vender 35 mil exemplares, contando com assinaturas, vendas de mão em mão e distribuição em bancas.

Em 1978, com os efeitos da abertura política patrocinada pelo governo de Ernesto Geisel (1974-1979), a organização trotskista Convergência Socialista, que já orbitava em torno do jornal, assume o comando a publicação e o Versus muda sua linha editorial, tomando rumos políticos mais definidos. No mesmo ano, após dirigir a publicação por 24 números, Faerman deixa o jornal, que encerrou suas atividades no ano seguinte, em 1979. Hoje, todas as edições que foram dirigidas por Marcos Faerman estão digitalizadas em um site dedicado a preservar a memória do jornalista.

 

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