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Lição do golpe : o confronto, às vezes, é inevitável

Dez 19, 2016

Por Bepe Damasco                                                                                        

 

Que os governos de Lula e Dilma, e também o PT, erraram feio ao não investir na politização e na formação do povo sabemos todos. Que ter deixado de lado o debate com a sociedade sobre a democratização da mídia acabou tendo efeito letal na disputa de narrativas sobre o afastamento de Dilma também é líquido e certo.

Contudo, para além das duas autocríticas mais presentes nos balanços petistas sobre os 13 anos de governo, é importante recolher dos episódios históricos o máximo possível de lições. Delas precisamos lembrar sempre para que erros semelhantes não se repitam no futuro.

A necessária ampliação da resistência ao golpe de estado, especialmente em um momento de forte ofensiva dos golpistas para liquidar direitos e conquistas do povo, não é incompatível com o debate sobre os fatores que permitiram mais uma vez à elite mais retrógada do planeta voltar ao governo sem voto, ferindo de morte a soberania popular.

Então, vamos direito ao ponto : se o governo falhou na formulação e execução de uma estratégia voltada para a disputa ideológica por corações e mentes, em termos tático-operacionais, ou seja, nas ações políticas cotidianas de enfrentamento à conspiração golpista, revelou-se um fracasso de proporções inacreditáveis.

Desde quando ficou claro que se formara um poderoso consórcio golpista, enraizado fortemente nas instituições do Estado (TCU, Congresso Nacional, Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário) e liderado pela mídia monopolista, ao governo só restava adotar uma política diária e contundente de combate, através da qual a própria presidenta Dilma e seus ministros não deixariam ataques sem resposta, com a utilização de todos os meios dos quais o governo dispõe. Mas as ações neste sentido foram tímidas, precárias e insuficientes.

Pelo menos aqui do nosso canto na blogosfera progressista, cansamos de alertar que seria suicídio político tratar tempos encarniçados de guerra como se fossem dias radiantes e floridos de paz. Dilma é uma pessoa de soberbas qualidades - honrada, séria, comprometida com as boas causas do povo e da democracia e profunda conhecedora das engrenagens de governos-, falta-lhe, no entanto, talento para a política. É ponto pacífico que essa sempre foi uma das principais lacunas de seu governo.

O que não dá para entender é a letargia que tomou conta de tantos assessores e ministros, gente tarimbada nos embates da política, com experiência na militância de esquerda e que tinha, portanto, obrigação de saber que o confronto às vezes é inevitável.

Em lugar de alimentar falsas ilusões, segundo as quais o governo teria votos suficientes para impedir o impeachment na Câmara dos Deputados, e depois no Senado, cabia aos quadros do governo falar o português que as pessoas entendem, dar nome aos bois, apontar os braços do Estado envolvidos no crime da quebra da ordem democrática e citar dia sim outro também o nome dos órgãos de imprensa metidos até o pescoço na trama.

Na Venezuela, a democracia ainda resiste porque a Suprema Corte e as Forças Armadas repelem o golpismo, respaldadas pela ainda forte mobilização popular do chavismo. Aqui, o republicanismo tolo de Lula e Dilma levou para o STF ministros desqualificados e de ralas convicções democráticas. No Ministério Público, a bobagem da adoção da lista tríplice teve o resultado que se conhece.

Alguns gestos de resistência assumem importância histórica, ao mesmo tempo em que contribuem para impulsionar a luta e despertar consciências.

Exemplo : já que o golpe foi uma farsa montada à margem da lei para apear do governo uma presidenta que não cometeu crime algum, talvez fosse importante Dilma ter se negado a deixar o Palácio do Planalto, obrigando as Forças Armadas a retirá-la, no dia da consumação do golpe.

Mas isso é coisa para ser feita na refrega do combate. O problema é que o governo Dilma optou por não guerrear.

 

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