Um golpe de estado sofisticado como o desferido contra a democracia brasileira em 2016 não teria logrado êxito sem uma articulação orgânica e permanente das personalidades e instituições que o tramaram e executaram.
O senador Romero Jucá, gravado por um delator, não deixou dúvidas dúvidas quanto à diversidade dos atores envolvidos : "É todo mundo junto, com o Supremo e tudo."
Durante todo o período de sabotagem do governo Dilma que antecedeu a noite dos horrores de 17 de abril, na Câmara dos Deputados, saltava aos olhos a movimentação orquestrada dos golpistas, sua agenda, a exploração coordenada dos fatos relacionados às conjunturas política e econômica, sua precisão cronológica.
Quaisquer fatos potencialmente positivos para o governo Dilma - um dado da economia um pouco melhor, uma votação favorável no Congresso, a entrega de uma obra importante, a ampliação de um programa social ou uma manifestação esvaziada de fascistas - eram imediata e impiedosamente respondidos com artilharia pesada por parte dos coveiros da democracia.
E cada um cumpria à risca seu papel na engrenagem : Moro mandava prender mais um petista ou aliado; a Polícia Federal o atendia com a pirotecnia de sempre; o Ministério Público vazava mais uma delação seletiva para atingir o governo; a mídia mais vagabunda do planeta estampava manchetes encurralando Dilma e tratando o PT como facção criminosa; Ibope e Datafolha entravam em cena com mais um levantamento com números aterradores para o governo; deputados e senadores reverberavam tudo isso nas tribunas.
Embora eu não seja dado a teorias conspiratórias, é impossível acreditar que os múltiplos tentáculos golpistas agissem de forma espontânea para provocar um efeito manada contra Dilma. São muito fortes as evidências de que esse projeto criminoso contava com um núcleo duro centralizado de coordenação e formulação, apoiado por braços operacionais no monopólio da mídia, TCU, MP, PF, Judiciário, STF, Congresso Nacional, organizações empresariais e de bancos, além dos institutos de pesquisas.
Consumado o golpe, o esquema mafioso continuou ativo em busca da concretização de seus dois outros objetivos estratégicos : inabilitar ou prender Lula e liquidar de vez o PT. De quebra, ainda luta desesperadamente para dar alguma governabilidade a Temer, o que é fundamental para que ele faça sua parte, destruindo o estado social ,com a revogação da Constituição de 1988, e entregando as riquezas nacionais.
Só que diante do desgaste acelerado de Temer, cujo governo mais corruto da história já perdeu oito ministros em oito meses, o alto comando golpista teve de retomar a velha tática de produzir um fato impactante para compensar episódios preocupantes não só para sua estabilidade, como para a proteção de seus aliados tucanos megadelatados, mas eternamente impunes.
Assim, está longe de ser mera coincidência que, após um carnaval no qual o Fora Temer fora transformado num hino que ecoou em todos os quadrantes do país, e a lama chegou com força ao pescoço de Temer e dos tucanos, a inteligência golpista tenha providenciado a condenação de Delúbio, mais um ex-tesoureiro do PT, por conta de uma história que até a República de Curitiba tem dificuldade de explicar : um empréstimo concedido em 2004 por um banqueiro a um pecuarista , mas que na verdade serviu a beltrano que lavou o dinheiro para sicrano, em proveito da "rebimboca da parafuseta."