Se você acha que por ser um cidadão correto, com trabalho (se tiver emprego) e residência fixos, pagador de seus impostos e cumpridor das leis do país, está livre de ter sua casa invadida por meganhas às 6h da manhã, trago-lhe uma péssima notícia : no estado policial e fascista do Brasil pós-golpe ninguém está livre desse dissabor.
Basta que você manifeste publicamente seu inconformismo com a ruptura da ordem democrática e denuncie juízes e procuradores que traem suas funções públicas para fazer política da forma mais rasteira.
Basta que você se revolte contra uma operação judicial-policial-midiática que está destruindo a economia brasileira.
Basta que você seja solidário aos mais de um milhão de trabalhadores que perderam seus empregos com a ruína dos setores óleo e gás e construção, e se exaspere vendo a indústria da carne ir pelo mesmo caminho.
Basta que sua veia patriótica salte diante da entrega do nosso petróleo aos estrangeiros.
Basta que você se insurja contra o fim da aposentadoria, do emprego formal, da CLT.
Basta que você grite contra o congelamento dos gastos sociais, a reforma do ensino médio imposta à sociedade, o definhamento do SUS e do Bolsa Família, a desfiguração do Minha Casa, Minha Vida.
Basta que que você expresse seu nojo de um governo golpista formado por corruptos e e canalhas. A liberdade de expressão hoje só vale para os bajuladores do estado de exceção.
O juiz Moro, entre as aberrações jurídicas que produz em profusão, inventou o depoimento coercitivo, à força, sem que o cidadão tenha se negado a depor. Foi assim com o blogueiro Eduardo Guimarães, com o jornalista Breno Altman, com Lula e com inúmeros outros investigados.
É de uma violência execrável a apreensão por parte da PF de celulares e computadores de pessoas que estão sendo levadas para prestar depoimentos. Mas o clima de vale tudo contra o "inimigo" deixa os policiais a cavaleiro para tratar investigados como bandidos. Até hoje, passado mais de um ano do sequestro de Lula, o tablet de seu neto não foi devolvido, bem como o celular da falecida Dona Marisa.
O objetivo é claro : através da bisbilhotagem de mensagens e telefonemas, criar uma versão, um elo fantasioso que seja, para a partir daí incriminar as pessoas. Na falta de preparo intelectual, métodos investigativos de qualidade e capacidade de produzir provas convincentes, esse é o modus operandi da força tarefa da Jato Jato.