1) A megadelação feita pelos donos e executivos da Odebrecht revela um emaranhado de modalidades de injeção de dinheiro no sistema político do país : de contribuições por fora para as campanhas, a título de caixa dois, a depósitos na conta de políticos no exterior, passando por contribuições eleitorais "por dentro" e declaradas à justiça eleitoral ; de recursos destinados ao enriquecimento ilícito de políticos a prêmios pagos por atuações favoráveis aos interesses das empresas no Executivo e no Legislativo, passando pelo pagamento de propinas visando granjear simpatias na classe política. Mas a Globo, fiel à sua tradição de desinformar, e no afã de destruir a atividade política, põe tudo no mesmo balaio.
2) Os delatores da empresa são criminosos confessos que sofreram toda sorte de pressões e torturas psicológicas para aderirem à delação premiada. Sabem que não é qualquer delação que pode livrar-lhes a cara. Falar em Lula, por exemplo, é ouro em pó e soa como música aos ouvidos de Moro e dos procuradores da República de de Curitiba. Por isso, as versões apresentadas pelos delatores deveriam ser vistas com reserva e desconfiança. Mas a Globo as toma como verdades absolutas.
3) O Brasil ainda padece de um nível vergonhoso de desigualdade social, o drama do desemprego atinge mais de 13 milhões de brasileiros e brasileiras e há gargalos sérios nas áreas de infraestrutura, ciência, tecnologia e inovação. A indústria encolhe a olhos vistos tragada pela falta de investimento, de crédito e pela invasão dos produtos chineses. O setor exportador é asfixiado pelo câmbio sobrevalorizado, enquanto uma longa distância ainda nos separa do atendimento universal de qualidade na saúde e de uma educação de excelência. Mas, para os telejornais da Globo nada disso importa. 100% do noticiário de política e economia tratam exclusivamente de delações e da Lava Jato.
4) As delações da Odebrecht envolvem políticos de A a Z, alvejando figuras de todos os partidos. Logo as premissas do bom jornalismo exigem uma cobertura equilibrada capaz de mostrar a amplitude e a dimensão do problema. Mas a Globo dedica ao ataque a Lula tempo infinitamente maior do que a de todos os outros citados nas delações somados. Nada menos do que 20 minutos de uma edição recente do JN foram usados para o linchamento de Lula, na base de ilações e conjecturas.
5) Temer foi acusado de negociar uma propina de 40 milhões. Mas a Globo nas poucas vezes em que abordou o assunto o fez de forma relâmpago, enfatizando que a lei não permite que ele seja investigado por episódios anteriores ao mandato. Aqui a Globo mente de forma deslavada. A lei de fato impede que presidentes sejam processados por ilícitos cometidos antes do exercício do mandato. No entanto, podem e devem ser investigados. Imagina se Lula ou Dilma fossem acusados de pedir dinheiro a empreiteiras dentro do Palácio ?