Aos 71 anos de idade, José Dirceu de Oliveira e Silva está em liberdade provisória, depois de mofar por dois anos nas masmorras da Lava Jato. Condenado sem qualquer prova, com base em ilações e conjecturas, pelo juiz de 1ª instância Sérgio Moro, há 30 anos de cadeia, ele viveu dignamente seu calvário em Curitiba.
Dedicou seu tempo ao trabalho na biblioteca do presídio, à leitura e aos exercícios físicos, enquanto dezenas de outros réus se degradavam moralmente apontando o dedo acusador na direção exigida pelo juiz Moro e pelo procuradores da Lava Jato, jovens e inconsequentes militantes da direita nativa.
O crime cometido por Dirceu é ter dedicado toda a vida às boas causas do povo brasileiro. Isso a plutocracia do nosso país não perdoa. Dirceu paga o preço por ser um dos principais formuladores e executores de um projeto democrático-popular que por 13 anos contrariou os interesses da elite mais mesquinha do mundo.
Um dos expoentes do efervescente e combativo movimento estudantil do final dos anos 60, ele acabou preso no Congresso de Ibiúna, da UNE. Ao sair, ingressou na resistência armada à ditadura militar e teve que deixar o país rumo ao exílio. Voltou ao Brasil, vivendo na clandestinidade até a aprovação da anistia em 1979.
A partir daí colocou sua grande capacidade política a serviço da redemocratização do país e da construção do Partido dos Trabalhadores. Deve-se a Dirceu em grande medida a engenharia política que levou Lula à presidência pela primeira vez, com a vitória nas eleições de 2002. Ao sair da chefia da Casa Civil, em 2005, tem início sua via crucis, alvo da ira da burguesia.
Apontado de forma leviana como o "chefe do mensalão", contra ele os poderosos não hesitaram em lançar mão até de doutrinas estranhas ao bom direito, como a "teoria do domínio do fato.". Com base nessa excrescência jurídica, a ministra Rosa Weber pronunciou a tristemente famosa frase : "Não tenho provas contra Dirceu, mas a literatura me autoriza a condená-lo."
Ainda cumprindo prisão domiciliar por conta da Ação Penal 470, foi preso pelo Lava Jato, afinal só quem pode prestar serviços de consultoria no Brasil são tucanos e assemelhados. Os responsáveis pela privataria tucana, vale lembrar, enriqueceram com essa atividade. Mas Dirceu ousou trabalhar como consultor.Não tardou para o establishment criminalizar seus serviços profissionais através de uma narrativa que convenceu até mesmo algumas pessoas ligadas ao campo democrático e de esquerda.
Por determinação de Moro, Dirceu está usando tornozeleira e não pode sair da cidade de Brasília, onde sua esposa tem residência.Mesmo assim os articulistas da Globo e congêneres babam de ódio só de imaginar que ele poderá dedicar seu tempo a escrever, formulando táticas e estratégias para o PT e para a esquerda, além de receber pessoas.
As chances dele voltar para cadeia são consideráveis, pois o TRF da 4ª Região tem se notabilizado como carimbador das decisões de Moro, quando não agrava as penas da 1ª instância. Mesmo assim os fascistas das redes sociais arrancam tufos de cabelo e se desesperam com a decisão da 2ª turma do STF.
É impressionante a quantidade de brasileiros descerebrados, criados e cevados pelo monopólio da mídia. Era inimaginável nos anos da redemocratização, cujo ápice se deu com a promulgação da Constituição de 1988, que menos de 20 anos depois os camisas pretas se transformassem em um fenômeno político alarmante. Exagero ? É só ver as intenções de voto no nazista Bolsonaro captado pelas últimas pesquisas. A tentativa dos cães hidrófobos fascistas de agredir o ex-ministro quando ele chegava em Brasília dá bem a medida do que é capaz essa gente.
Mas não passarão.