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A absolvição de Cláudia Cruz e o martírio de Dona Marisa

Mai 26, 2017

Por Bepe Damasco                                                                                              

A absolvição da mulher do megabandido Eduardo Cunha deve ter deixado os investigadores suíços perplexos. Afinal, foram eles que rastrearam a conta do "Caranguejo" naquele país, fazendo cair na rede também as milionárias compras da madame De toda maneira, é positivo que agentes públicos sérios de outros países sintam na pele o que é a Lava Jato, para além da blindagem da mídia comercial brasileira.

O problema é que ainda são muitos os brasileiros que, vítimas da lavagem cerebral operada dia após dia pelo monopólio da mídia, acreditam nos bons propósitos do justiceiro Moro e de seus procuradores messiânicos. Contudo, todas as pesquisas mostram que a cada vez mais pessoas já conseguem perceber a escandalosa parcialidade da Lava Jato e vê-la como um instrumento político a serviço dos interesses da plutocracia do país. Sem falar nos milhões de desempregados que já produziu. Sem falar na destruição do setor de petróleo, gás e construção, tragédia econômica para a qual a Lava jato muito contribuiu.

Ao livrar Cláudia Cruz das acusações que lhes eram imputadas, Moro revela pela undécima vez que os dois pesos e duas medidas de suas decisões levam em conta o poder de fogo, o potencial de causar estragos dos alvos direitos e indiretos de suas decisões. Mesmo encarcerado, um eventual delação de Cunha provocaria um tsunâmi de consequências imprevisíveis. Melhor deixar quieto.

Para se ter uma ideia da noção torta de justiça cultivada por Moro, nem depois de morta Dona Marisa foi absolvida pela Lava Jato. É comum a absolvição de réus falecidos em processos nos quais a acusação, ou seja o Ministério Público, não reúne provas contra o investigado, como decididamente era o caso da ação da Lava Jato envolvendo Dona Marisa. Mas Moro optou por apenas anular o processo em razão do falecimento. Mesquinharia e desumanidade em doses cavalares.

Dona Marisa teve sua casa invadida por meganhas, seu colchão levantado, suas gavetas reviradas, computadores e celulares dos netos levados pela PF, suas conversas íntimas com familiares vazadas para a imprensa, seu marido caçado, seus filhos perseguidos. Diante de tamanha tortura psicológica, não há aneurisma controlado que resista.

É impossível não lembrar de seu martírio ao ler a sentença de Moro livrando Cláudia Cruz, ao arrepio de todo o meticuloso trabalho da justiça suíça. Nascida em uma família de imigrantes italianos, os Casa, de longa tradição de labuta na agricultura de seu país, Marisa Letícia, seguindo o destino reservado aos pobres do Brasil, começou a trabalhar aos 13 anos na fábrica de doces Dulcora, em São Paulo, como embaladora de bombons.

Seis meses depois de casada, seu primeiro marido morreria assassinado durante um assalto ao seu táxi. Viúva e grávida, Dona Marisa trabalhou como inspetora de alunos de um colégio. Depois de conhecer e se casar com Lula, o casal teve mais três filhos. Ao longo de um casamento que durou mais de 30 anos, ela foi a companheira de todas as horas do maior líder popular do país e presidente da República mais amado pelo povo.

Dói muito ver que Dona Marisa, digníssima filha do povo trabalhador, não mereceu o mesmo tratamento da justiça brasileira dado à mulher e cúmplice de um gângster. Mas a história lhe fará justiça. Da mesma forma que os protagonistas das atrocidades jurídicas cometidas pela Lava Jato não escaparão do acerto de contas com as gerações futuras.

 

 

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