A decisão apertada do TSE, embora correta do ponto de vista jurídico, só foi possível graças à nomeação de dois juízes por Temer nos últimos meses e, sobretudo, devido à atuação de seu principal cabo eleitoral nos tribunais, o ministro Gilmar Mendes.
O mínimo de paz para governar, o que no caso de Temer significa acelerar o roubo de direitos do povo através de seus projetos regressivos, é simplesmente uma meta inatingível à essa altura do jogo. Só o medo de descer a rampa do Planalto direto para cadeia pode explicar a cegueira política que o acometeu.
Do contrário,Temer já teria enxergado alguns fatos que desfilam diante de si :
1) Boa parte das forças golpistas que o catapultaram ao governo já desembarcou do seu barco à deriva, que faz água por todos os lados;
2) O apoio que ainda mantém, embora relativamente numeroso no Congresso Nacional, se concentra na escória da política, formada por parlamentares sem a envergadura política e moral necessária para ajudá-lo a vencer a tormenta;
3) O tempo que ele insistir em se agarrar a um poder que não possui mais é diretamente proporcional à quantidade de lama que cobrirá sua imagem quando finalmente for defenestrado do cargo que ocupa de forma ilegítima.
Nem mesmo seu grande cacife junto aos financiadores do golpe, que são as reformas antipovo que tramitam no Congresso e a entrega das riquezas nacionais aos estrangeiros, têm o mesmo valor no mercado da política. O diabo para Temer é que os patrocinadores da restauração conservadora perceberam que não precisam de um político tão vil para aprová-las. E a fórmula encontrada é do conhecimento geral : a eleição indireta, via Congresso Nacional, de alguém mais palatável para concluir o o trabalho sujo de fazer o Brasil regredir aos tempos da República Velha.
Reparem que o racha no bloco golpista dominante está relacionado à presença de Temer no Planalto, e não a duvidas sobre a conveniência das reformas. Pouco importa que as pesquisas apontem que 85% da população as rejeitem. Pouco importa que as centrais sindicais, os movimentos sociais, intelectuais, artistas, CNBB e associações de juristas as condenem. Pouco importa se elas já motivaram a maior greve geral da história, em 28 de abril, e outra esteja marcada para 30 de junho.
Em que pese a visível ascensão das mobilizações populares por nenhum direito a menos, por Fora Temer e Diretas Já, o cenário mais provável é que acabem empurrando goela abaixo dos brasileiros e brasileiras o fim da CLT e das aposentadorias. A menos que a resistência cresça de forma extraordinária a ponto de emparedar o governo e constranger a mídia monopolista, caberá ao próximo presidente do campo democrático e progressista, legitimado pelas urnas, desfazer uma por uma as obras desses tempos de trevas.
Essa semana será mais uma em que Temer passará insone. Provavelmente vem aí a denúncia formal do ministro Fachin contra ele por corrupção, organização criminosa e obstrução da justiça. E já está rendendo a denúncia de que o usurpador mobilizou o aparato de inteligência e arapongagem do governo para bisbilhotar a vida de Fachin com o intuito de desmoralizá-lo e melar as acusações contra ele. Mais um passo em falso em direção ao inevitável precipício.