Depois do golpe de estado que apeou do governo a presidenta Dilma, da campanha para tentar destruir o PT e da caçada ao ex-presidente Lula, os golpistas se preparam para fechar com chave de ouro a “blitzkrieg” contra o regime democrático.
Na certa, castrar o direito dos brasileiros e das brasileiras elegerem o presidente da República vem sendo o assunto principal dos encontros na calada da noite no Palácio do Jaburu entre Temer, Gilmar, Moreira, Aécio e outras figuras de proa do golpismo. O usurpador, inclusive, já não esconde de ninguém o seu sonho de que o parlamentarismo passe a valer já para as eleições do ano que vem.
Os tucanos, por sua vez, com a imagem na lama, vislumbram no parlamentarismo a única possibilidade de permanecerem no poder sem voto, afinal, as quatro derrotas consecutivas em eleições presidenciais para o PT revelam de forma cabal a rejeição do eleitorado ao seu programa de governo.
O fracasso retumbante do golpe, obra e graça da quadrilha de alta periculosidade que assaltou o poder, com depressão econômica, 13 milhões de desempregados, corte de programas sociais, roubo de direitos históricos do povo, entrega do petróleo aos estrangeiros e roubalheira a granel deixou os líderes da ruptura da ordem constitucional sem viabilidade eleitoral para 2018.
Rejeitado por 95% da população, Temer, através do efeito contágio, levará para o fundo do poço seus apoiadores. E, como vergonha na cara não é o forte dessa gente, resolveram passar por cima de dois plebiscitos (em 1963 e 1993), nos quais restou evidente a esmagadora preferência popular pelo presidencialismo. Os golpistas apostam na cumplicidade do único espaço em que são majoritários: o Congresso Nacional mais corrupto e desqualificado da história do país.
Então, a pergunta que não quer calar é a seguinte : como se comportarão os democratas e a esquerda ante à conspiração infame visando sabotar a soberania popular de forma definitiva ? Se insistir apenas no mais do mesmo das passeatas e protestos, o caminho para a guilhotina será dramaticamente encurtado. Reitero que, mais do que nunca, partidos de esquerda, movimentos sociais e entidades da sociedade civil têm a obrigação de discutir com o povo formas alternativas e radicalizadas de luta.
Em que pese ninguém tenha essa fórmula pronta, já passou da hora desse debate começar. Pode ser que o ovo atirado no Dória, em Salvador, sirva como exemplo de ousadia no enfrentamento dos opressores.
O problema é que tem gente que se diz de esquerda condenando o arremesso de ovos na cabeça fascista do prefeito de São Paulo. Quer dizer então que os militantes da esquerda têm que se comportar como lordes ingleses diante de um sujeito que manda dar porrada em viciados em droga, que derruba prédios com populares sem-teto dentro e que joga água em moradores de rua com um frio de cinco graus ?
Esse republicanismo ingênuo e suicida explica em boa medida porque a burguesia encontrou espaço para desferir e consolidar o golpe de estado no Brasil. Se isso não mudar, vem aí o parlamentarismo.