Deise Miron é militante do Partido dos Trabalhadores há mais de 20 anos. Moradora da cidade gaúcha de Cruz Alta, administrada pelo partido e no qual o MST tem forte presença, ela deixava o ato político que marcou a passagem da caravana de Lula pelo seu município quando foi atacada por um bando de fascistas.
Depois dos socos e pontapés recebidos, inclusive quando já estava no chão, foi socorrida e levada para o hospital. Seu filho de 10 anos a tudo assistiu. Deise sofre de câncer.
Outras mulheres e homens em Cruz Alta também foram vítimas de agressão. Desde o início da caravana no Rio Grande do Sul, em Bagé, grupelhos armados de pedra, porretes e até armas de fogo de tudo fizeram para intimidar os militantes e a população das cidades por onde Lula passou no estado. Ônibus e carros do comboio do ex-presidente foram apedrejados.
Travestidos de produtores rurais, chegaram a impedir o direito de ir e vir de Lula, Dilma, parlamentares e dirigentes políticos, na entrada de Passo Fundo, atravessando carros de passeio e tratores na estrada, além de provocar incêndios.
É importante assinalar que a passagem da caravana pelo Rio Grande do Sul foi um sucesso, a exemplo do que ocorrera no Nordeste, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, com Lula sendo ovacionado e arrastando multidões para ouvi-lo.
A esperança que hoje Lula desperta no povo brasileiro, a despeito do massacre incessante sofrido nos últimos anos, faz dele, sem exagero, a maior liderança popular do mundo. Escrevo na noite de sábado, 24/3, enquanto acompanho a mesma recepção apoteótica por parte dos catarinenses.
No fim do comício em Chapecó, um episódio histórico: a massa escoltou Lula, acompanhando-o até o hotel. Milhares de homens e mulheres fizeram vigília durante toda a madrugada diante do local em que Lula estava hospedado.
Mas na região Sul uma minoria antidemocrática, formada por gente de um analfabetismo político de dar dó, e adepta da utilização de métodos violentos típicos das milícias fascistas, se achou no direito de impedir manifestações políticas pacíficas, voltadas para o debate com a população e a apresentação de propostas para o país.
O banditismo dos bolsonaristas gaúchos chegou a ser estampado em camisetas com a foto de Lula degolado. Só que boa parte dos tratores e máquinas usados na sabotagem foi comprada através de programas de financiamento dos governos de Lula e Dilma. Se bem que seria demais esperar de quem destila ódio por todos os poros análises políticas minimamente racionais sobre o que os governos A, B ou C realizaram ou deixaram de realizar.
De pouco adiantaram os apelos feitos pelos deputados e senadores do PT ao ministro da Segurança Pública, ao governador do Rio Grande do Sul e ao comandante da Brigada Militar chamando a atenção para suas responsabilidades na garantia da segurança dos dois ex-presidentes da República presentes à caravana. Seja por omissão, incúria, pouco caso ou falta de vontade política, o fato é que as forças policiais foram incapazes de conter a ação terrorista dos que se julgam donos do estado.
O julgamento farsesco do mensalão chocou o ovo da serpente do fascismo. Na sequência, as chamadas jornadas de 2013 deram a luz ao monstrengo que, cheio de vida, deu as cartas no golpe de 2016, na caçada a Lula e na consolidação do estado de exceção que nos infelicita.
Hoje, se nem as ditas autoridades podem contê-lo, só nos resta a legítima defesa. Até para honrar os lutadores que ao longo da história enfrentaram e derrotaram o fascismo, muitos com o sacrifício da própria vida, já passou da hora de os partidos de esquerda e os movimentos sociais criarem suas brigadas de autodefesa. Afinal, fascismo não se discute, fascismo se destrói.