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A arte de fazer política no epicentro do terremoto

Ago 09, 2018

Por Bepe Damasco                                                                                         

 

Chama atenção a quantidade de gente bem-intencionada a vociferar nas redes sociais contra a engenhosa e complexa costura política feita por Lula e pela cúpula do PT que culminou na chapa tríplice Lula-Haddad- Manuela D’Ávila.

As críticas, algumas com um descabido nível de ferocidade, vão da preocupação com o esvaziamento da candidatura de Lula a discordâncias de mérito em relação ao nome do ex-prefeito de São Paulo, passando por manifestações de solidariedade a Ciro Gomes por ter ficado de fora do acordo que envolveu PT, PCdoB, PROS e PCO, além da neutralidade do PSB na eleição presidencial.

Para enfrentar de cara o problema Ciro, socorro-me de trecho de um pequeno texto que publiquei no meu perfil no facebook: “Quem insistir em apontar Ciro Gomes como vítima deste processo que vá reclamar com o candidato do PDT. Ele próprio se excluiu da aliança ao não se solidarizar com Lula pelo massacre infame sofrido, elogiar a justiça corrompida e se somar aos inimigos nos ataques ao PT.”

Na minha visão, os argumentos apresentados para atacar o acerto de parte da esquerda não se sustentam. O que vê o ex-presidente Lula como vítima de uma tratativa sórdida, voltada ao fim e ao cabo para alijá-lo das eleições, chega a ser risível.

Se não estivessem com a vista turvada por apostas políticas deslocadas da realidade, os que julgam que Lula foi escanteado e traído haveriam de reconhecer o que até as frias paredes da cela em que se encontra em Curitiba sabem: Lula liderou toda a negociação e deu a palavra final para que o acordo fosse selado.

São frágeis, capengas e nascem com vício de origem análises que não levam em conta o quadro de excepcionalidade e dramaticidade que envolve a eleição de outubro. Houve um golpe de estado, as trevas do estado de exceção jogaram o país numa longa noite na qual são sacrificadas garantias fundamentais, riquezas estratégicas do país são pilhadas e  direitos do povo sáo roubados Em paralelo, o nosso maior estadista e líder de massas é feito preso político há cerca de quatro meses.

Quem advogada teses porra loucas, salpicadas por um anarquismo inconsequente, tipo boicotar as eleições caso Lula seja mais uma vez vítima da violência da ditadura de novo tipo que se instalou no país, esquece que esticar a corda até ela arrebentar  equivale a dar a vitória a Bolsonaro ou a Alckmin. E esta conta, certamente, será espetada nas costas do povo brasileiro.

Parafraseando o Lula, nunca antes na história deste país a esquerda se viu diante da necessidade de definir sua tática eleitoral com um candidato a presidente encarcerado. Tampouco há precedentes de um sistema de justiça tão decidido a rasgar de vez a Constituição para impedir que um candidato favorito do povo volte a assumir o governo da República.

E foi exatamente no epicentro desse terremoto que a direção do PT se dedicou à tarefa hercúlea de construir uma alternativa que preserve a candidatura de Lula, não poupando esforços tanto na esfera jurídica como na da mobilização popular para superar os obstáculos impostos pelos verdugos da democracia.

Penso que o PT honrou sua responsabilidade histórica com os mais pobres  ao apresentar a alternativa Haddad/Manuela. Afinal, todas as pesquisas são unânimes em indicar que, tal qual aconteceu na Argentina, em 1973, com a candidatura de Héctor Cámpora representando Perón, na época exilado,  um candidato apoiado por Lula tem grandes chances de chegar ao segundo turno e vencer as eleições.

 

 

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