Proibido de deixar o Peru por 19 meses, em consequência da investigação sobre seu suposto envolvimento em casos de corrupção ligados à Odebrecht, o ex-presidente peruano Alan Garcia pediu asilo político ao Uruguai. Primeiro através de contato direito com o presidente Tabaré Vázquez e, na sequência, formalizando o pedido na embaixada do Uruguai em Lima.
Mas o chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, já informou que a solicitação será aceita, pois com base na Convenção sobre Asilo Diplomático, assinada em 1954 pelos países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), todo Estado tem direito, no exercício de sua soberania, a receber as pessoas que julgue convenientes, sem que outro país possa fazer qualquer exigência.
Antes de avançar neste artigo, penso ser prudente fazer a seguinte ressalva: não há termos de comparação entre as trajetórias e estaturas políticas de Lula e Alan Garcia. Enquanto Lula tem lugar cativo na história como grande líder de massas, melhor presidente brasileiro de todos os tempos e estadista mundial, mercê de sua cruzada contra a fome e a miséria, o ex-mandatário peruano viu seu governo naufragar em meio à rápida erosão de sua base política, social e eleitoral.
Mas vamos ao ponto: o exílio de Garcia só reforça a minha opinião, já expressa em artigos anteriores, de que Lula cometeu o maior erro político de sua vida ao não aceitar sequer examinar a alternativa de se exilar. Seja protegido pela inviolabilidade de uma representação diplomática, ou mesmo exilado em outro país, Lula teria plenas condições de se valer das modernas tecnologias de comunicação para seguir liderando a luta contra o golpe, a liquidação dos direitos do povo e o roubo das riquezas nacionais. Fora do Brasil, na condição de refugiado político, Lula teria papel central também na resistência ao nazi-bolsonarismo, que promete a partir de janeiro produzir um desastre de proporções jamais vistas em nosso país.
Quando o capitão nazista defende que “Lula apodreça na cadeia”, Moro recebe como prêmio por ter impedido que o ex-presidente se elegesse mais uma vez um superministério voltado para a consolidação do estado policial e uma juíza apela para toda sorte de grosserias para tentar constranger Lula e prejudicar sua defesa, uma inquietação nos tira o sono: o que fazer com a dor crescente causada pela indignação e a revolta diante da massacre infame do qual Lula é vítima ? Não se vislumbra resposta no horizonte, infelizmente.
Nos planos de Moro, de seus pares do judiciário igualmente corrompidos politicamente, dos grupos mafiosos de mídia, dos fascistas e de boa parte da elite econômica está a prisão perpétua de Lula. É questão de dias mais uma condenação, agora no processo do sítio de Atibaia, tão ridículo e patético quanto o do triplex. E, não se iludam, depois virão outras.
E que motivos temos para acreditar nos tribunais superiores? Como ter esperanças de que um Supremo tutelado e amordaçado pelas forças armadas possa garantir um julgamento justo a Lula? O que esperar de um tribunal que se associou a um golpe de estado?
Aqui não cabe aquela choradeira infantil, do tipo “está vendo, eu não falei que o exílio era o único caminho?” Ao contrário, torci muito para estar equivocado e para que Lula logo ganhasse a liberdade. Contudo, até para, modestamente, contribuir para que erros históricos como esse não se repitam, julgo importante enfrentar o principal argumento contrário a que Lula deixasse ao país, segundo o qual o maior líder brasileiro passaria a ser visto como foragido da justiça, como fujão, na linguagem popular.
Ora, a malta de reacionários que assola o país, mídia à frente, não trata Lula como fujão, mas nem por isso usa expressões menos depreciativas quando a ele se refere. Reparem como fazem questão de lembrar que Lula está condenado por corrupção, ou que é um presidiário que quis ser candidato a presidente. E na cadeia conseguiram calar sua voz, impedindo-o de disputar corações e mentes através de sua reconhecida genialidade para se comunicar.
Para terminar, só lembro que há enorme diferença entre foragido da justiça e refugiado político.