Neste período profícuo de análises bem-vindas sobre os fatores que concorreram para a derrota do candidato do PT, e de grande parte do conjunto da esquerda, Fernando Haddad, e as correções de rumo necessárias ao enfrentamento do fascismo, tenho sentido falta de alguns dados da realidade.
Por exemplo: mesmo tendo feito uma campanha atípica, que o levou a ser lançado a três semanas da realização do primeiro turno, Haddad ficou a escassos cinco pontos percentuais da vitória, a despeito do poderoso vendaval midiático-judicial visando o aniquilamento das forças progressistas.
Forçado a urdir sua tática eleitoral no epicentro do furacão, com seu candidato natural e líder disparado de todas as pesquisas preso, o PT montou a engenharia política possível num cenário de gigantescas limitações e dificuldades.
Penso que o reconhecimento dos erros do partido, como o distanciamento das favelas e periferias, o afastamento da luta cotidiana do povo, o afrouxamento dos vínculos com os movimentos sociais e a falta de investimento em formação política popular, não deve turvar a visão a respeito dos episódios recentes da política que impactaram na campanha eleitoral.
Neste sentido, sugiro alguns pontos para a reflexão:
1- A atuação diuturna da mídia na desmoralização da política abriu uma enorme vereda para a disseminação de teses e valores fascistas entre pessoas de todos os estratos sociais.
2- O antipetismo visceral degradou as instituições do Estado, as quais traíram suas funções republicanas em nome de um ativismo político de direita.
3- O ataque voraz à democracia brasileira e às riquezas estratégicas da nação contou com o planejamento e a Inteligência dos departamentos de Estado e de Justiça dos Estados Unidos.
4- Sem a Lava Jato não haveria golpe contra Dilma, tampouco a caçada, a prisão de Lula e seu alijamento de uma eleição que venceria com facilidade.
5- Bolsonaro montou a partir de 2013 um megaesquema de atuação nas redes sociais, que ganhou poderosa musculatura durante o período do impeachment sem crime de Dilma. Essa estrutura milionária abriga um exército profissional de robôs e haters.
Ainda assim, ele teria perdido a eleição não fosse seu apelo à baixaria, ao jogo sujo e a crimes não só eleitorais. A fuga dos debates e uma facada pra lá de suspeita completaram o serviço. Não custa rememorar essa sucessão de golpes abaixo da linha da cintura :
- Conforme matéria do jornal Folha de São Paulo, com farta apresentação de provas, a indústria de mentiras impulsionada via WhatsApp pela campanha bolsonarista teve bilionário financiamento de empresas, o que é vedado por lei. Caixa 2 é crime eleitoral.-
- Calúnia, injúria e difamação são crimes comuns, com penas previstas no Código Penal. A campanha do capitão nazista, como é de amplo conhecimento público, atacou sistemática e covardemente a honra do candidato Fernando Haddad e de sua vice Manuela D’Ávila.
-Ignorante até a raiz dos cabelos sobre todo e qualquer assunto relevante para um postulante à presidência da República, Bolsonaro se beneficiou de um estranhíssimo e providencial atentado. Em vez de expor sua boçalidade ao país, ele se refugiou durante todo o primeiro turno numa enfermaria de hospital, faturando com a vitimização e com a avassaladora cobertura midiática sobre sua “recuperação”.
- Ao não participar de nenhum debate no segundo turno, algo inédito desde a redemocratização, Bolsonaro afrontou a democracia, desrespeitando o eleitorado e as premissas republicanas. Esse vale tudo para esconder sua estupidez foi certamente movido pela certeza de que o comparecimento a apenas um debate bastaria para a desmoralização completa.
- O explorador da fé alheia que atende pelo nome de Bispo Macedo ofereceu ao candidato do fascismo a TV Record como palanque exclusivo de sua campanha, em flagrante violação das regras eleitorais.
Em tempo: Tão célere para cassar Lula e condená-lo à invisibilidade durante as eleições, o TSE, ao diplomar Bolsonaro, mostra que decidiu varrer para debaixo do tapete o crime de caixa 2 e os disparos caluniosos de sua campanha.
Abaixo a ditadura!