Conversa entre dois trabalhadores cinquentões, eleitores confessos de Bolsonaro, num café no Centro do Rio, presenciada por mim. Vou chamá-los de A e B.
A – Votei no Bolsonaro, mas ele não falou que ia ferrar as pessoas com esta história de aposentadoria.
B – Pior é que um dia desse ele falou que queria aposentadoria aos 62 anos para homens e 57 para as mulheres. Agora já mudou de ideia, convencido por aquele ministro, que é quem manda no governo.
A – Isso não importa. Ele não pode sacanear quem ralou a vida toda como eu para ter direito à aposentadoria. Na campanha, o pessoal do PT falou isso e eu não acreditei.
B – Vou procurar um advogado para ver isso. Não é possível que não tenha um jeito. Faltam só três anos para eu me aposentar.
A – A ideia de procurar advogado é boa, mas calma. Não sei se o Bolsonaro vai conseguir. Acho que vai ter greve, confusão. Vai que ele volta atrás.
Moral da história
Durante a tentativa de reformar a previdência feita por Temer, também com base no corte dos direitos do povo, ficou claro para as centrais sindicais que palavras de ordem como “governo quer que você trabalhe até morrer” e “você vai morrer trabalhando" calam fundo na alma da classe trabalhadora.
É interessante notar que a rejeição à reforma, atestada por todas as pesquisas, prevalece mesmo com o jogo pesado a favor de todo aparato midiático, porta-voz do capital financeiro, ávido por abocanhar o mercado bilionário da previdência privada.
Acabo de ler que no dia 19 deste mês – data prevista para o envio do projeto ao Congresso - o governo inicia sua ofensiva publicitária, para tentar enganar as pessoas com o falso argumento do déficit e do risco de colapso do sistema caso a reforma não seja aprovada.
Não deu certo das outras vezes e há chances reais de que não dê certo agora. Mas vai depender de uma ação unificada entre as centrais sindicais, os movimentos sociais e a oposição parlamentar e, sobretudo, da mobilização nas fábricas, escolas, bancos, transportes, comércio e nos bairros.
Pesquisa recente feita entre deputados e senadores, e publicada pelo jornal Folha de São Paulo, mostra que o governo está ainda longe dos três quintos constitucionais necessários para aprovar a reforma tanto na Câmara como no Senado.
Há forte resistência aos eixos principais do projeto bolsonarista, que são o aumento da idade mínima para 65 anos para homens e mulheres, a redução pela metade do tempo de transição se comparado com o projeto de Temer e a desvinculação do Benefício de Prestação Continuada do salário mínimo.
Trocando em miúdos, há espaço para impor uma derrota ao governo exatamente naquilo que ele próprio considera sua prioridade absoluta. Sem entregar aos banqueiros essa valiosa mercadoria, a marcha de Guedes e Bolsonaro para o ocaso se tornará inevitável.