Em curto ou médio prazo, as forças progressistas brasileiras, queiram ou não, serão instadas a se posicionar sobre o afastamento de Bolsonaro. É que a elite do atraso, que pega carona no presidente imbecil para aprovar suas reformas antipopulares e antinacionais, já se deu conta de que Bolsonaro e sua trupe de ministros fundamentalistas e retardados mentais não só cobrem o país de vergonha, como levarão a economia aos caos.
Pouco importam as posições pessoais ou partidárias reticentes à banalização dos processos de impeachment. Também sou contra a esquerda encampar uma campanha pelo afastamento de Bolsonaro, seja por considerar que tornar corriqueiro o impedimento de governantes eleitos é danoso à democracia, seja porque Bolsonaro e os que votaram nele têm que assumir a responsabilidade e o ônus de ser governo. Contudo, independentemente das nossas vontades, este debate não tardará a desafiar os democratas.
O vexame de se ter na presidência da República alguém sem a menor noção da dimensão do cargo que ocupa, capaz até de postar vídeo pornô nas redes sociais, e que a cada discurso agride a razão, o bom senso, as garantias constitucionais e consagra a burrice mais atávica como método de governo já é um sentimento compartilhado pelas altas esferas dos endinheirados. Tanto que a mídia monopolista, porta-voz desses capitalistas, vem expressando de forma crescente seu desconforto e escandalização com a situação.
Na visão do mercado, porém, o carro não deve ser colocado na frente dos bois. Enquanto a menina dos olhos dos banqueiros e demais setores da burguesia, que é a reforma da previdência, não for aprovada há que se engolir Bolsonaro e seus filhos sociopatas, além de ministros fundamentalistas e inacreditavelmente idiotas, tais como Veléz Rodrígues, Damares e Ernesto Araújo.
Claro que sem bola cristal é impossível cravar que uma vez aprovada, ou não, a reforma da previdência, a conspiração dentro do próprio governo pela defenestração de Bolsonaro desembocará imediatamente num processo de impeachment. Mas é bastante provável que a trama, liderada por Mourão e outros generais que compõem a ala militar, ganhe corpo.
Esse movimento, ao que tudo indica, contará com o apoio dos grupos de mídia mais influentes, como Globo, Folha, Estadão e Veja. O presidente tentará resistir se escorando, a exemplo do que já fizera na campanha eleitoral, na Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV.
Na política as coisas mudam, às vezes, com a mesma velocidade das nuvens no céu, mas o cenário de substituição de Bolsonaro por Mourão se fundamenta em elementos concretos. Os conspiradores, na certa, estão em ação. E é bom e oportuno que se diga: as convicções democráticas do general Mourão não valem um tostão furado.
Antipetista até a medula, daqueles que vêm comunismo até na própria sombra , Mourão é inimigo dos movimentos sociais e vê com bons olhos sua criminalização. Não custa lembrar de suas ameaças de intervenção militar feitas em passado recente e que é de sua lavra a frase racista, e portanto criminosa, de que “o Brasil herdou a malandragem dos negros.”
Um hipotético governo liderado por ele consolidaria o poder militar, não só pela ampliação do número de fardados, mas também pela incorporação dos valores da caserna. A estupidez bolsonarista daria lugar à racionalidade das forças armadas. Mas a essência do reacionarismo se manteria intacta. Os militares preparariam o terreno, então, para Moro 2022, sem hesitar em apelar para a perseguição e a repressão contra a oposição.