Embora não tenha sido nenhuma pérola em termos de conteúdo, contundência e assertividade, bastou a presidenta Dilma enfrentar pela primeira vez os golpistas, na entrevista à Folha de São Paulo, para a atmosfera golpista ficar um pouco menos carregada. Mas muita água ainda vai correr por baixo da ponte.
É claro que era preferível que a presidenta convocasse uma cadeia de rádio e TV e falasse direito ao povo. Conforme o bravo Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada, ao optar por falar para a Folha, Dilma acaba legitimando um jornal que ocupa a linha de frente das articulações golpistas contra ela.
Contudo, é importante destacar que, finalmente, a presidenta reconheceu a gravidade da crise, chamou a oposição para a briga e, salve, salve, deu o nome que as coisas têm, acusando a oposição explicitamente de golpista. Foi além, desferindo um petardo na Lava Jato, ao execrar a figura do delator.
Logo surgiram os primeiros efeitos positivos da fala de Dilma:
1) Os tucanos vestiram a carapuça do golpismo, com direito inclusive a atos falhos por parte de um desorientado Aécio Neves;
2) Há muito não víamos manifestações de apoio a presidenta tão incisivas por parte dos partidos da base aliada;
3) Vários segmentos da sociedade civil se sentiram estimulados a virem a público condenar o golpe.
Contudo, é importante que defensores da legalidade e da democracia saibam que estamos só no começo de uma longa e encarniçada luta. E, como diz o Breno Altman, é impossível vencê-la sem confronto. Isso porque a força do consórcio golpista não pode e não deve ser menosprezada.
Sob a liderança do cartel da mídia, a trama conta com um braço parlamentar (PSDB, DEM, PPS, etc), e outro formado por parte considerável das instituições do Estado brasileiro: PF, MP, Judiciário e TCU. Por isso, o governo tem que unificar sua base de apoio e mobilizar os movimentos sociais, as centrais sindicais e entidades legalistas da sociedade.
Se quiserem derrotar os golpistas, governo e Dilma serão forçados a subir o tom, dando nome aos bois e denunciando para a população os atores envolvidos na conspiração pelo rompimento da ordem constitucional do país. Não há outra saída.