A indignação crescente com as políticas de austeridade, pródigas em aumentar a pobreza e a exclusão; a necessidade de resistir à liquidação dos direitos trabalhistas, sociais e ambientais; o sacrifício de gerações causado pelo desemprego; a insensibilidade dos neoliberais diante do drama dos refugiados; a luta para impedir que pilares do bem-estar social e do iluminismo virem pó, fulminados pelos ataques do obscurantismo e da financeirização da economia e da vida.
Estes fatores, dentre outros, ajudam a entender a mudança dos ventos político-eleitorais ao redor do mundo, evidenciada pelas recentes e seguidas vitórias da esquerda, dos democratas e de partidos e políticos comprometidos com valores como a solidariedade, a igualdade de oportunidades, as políticas públicas redistributivas e o combate aos preconceitos, sejam eles sociais, raciais, de gênero ou de orientação sexual.
O mesmo cenário favorável às forças progressistas se anuncia em países que realizarão eleições em breve, casos da Argentina, em outubro deste ano, e dos Estados Unidos, em 2020.
Com a economia devastada pela aplicação do receituário neoliberal radical do presidente Macri, que gerou explosão inflacionária, desemprego recorde e pedido de socorro ao FMI, o pais vizinho vive um ascenso notável da resistência popular. Duas greves gerais bem-sucedidas e protestos com adesão maciça encurralam cada vez mais o governo.
Também às voltas com um cerco judicial, lawfare que além de Lula atinge outros ex-presidentes de esquerda do continente sul-americano, a atual senadora e ex-presidente Cristina Kirchner, favorita em todas as pesquisas para a eleição presidencial que se aproxima, provocou forte turbulência no tabuleiro político argentino ao se lançar como vice-presidente na chapa (ou fórmula, como se diz nos países de língua espanhola) encabeçada por seu ex-chefe de gabinete, e também de Néstor Kirchner, Alberto Fernández.
Provavelmente pautado por pesquisas qualitativas internas de seu grupo político, o movimento inesperado de Cristina ao mesmo tempo em que dividiu opiniões na oposição a Macri, desnorteou os adversários que estão no poder. E, a julgar pelos primeiros levantamentos sobre a corrida eleitoral realizados após a mudança na cabeça da chapa, a tática se mostrou acertada.
Alberto Fernández lidera com folga as pesquisas e ultrapassa os 40% - percentual suficiente pela legislação eleitoral da Argentina para assegurar a vitória no primeiro turno – num cenário que inclui a candidatura do ex-ministro da Economia de Néstor Kirchner, o economista Roberto Lavagna, tido como um quadro moderado e hoje ligado a setores da direita do peronismo.
Tanto que o escândalo da vez na Argentina, manchete de todos os jornais, é um suposto oferecimento de suborno por parte de empresários próximos a Macri para que Lavagna desista de concorrer, o que levaria a eleição para o segundo turno. Seja contra quem for, Fernández mantém o favoritismo.
Em escala global, a virada dos segmentos comprometidos com o avanço social teve início com a vitória de Lópes Obrador, no México, em 2018, interrompendo seguidos governos conservadores e de direita. Em abril de 2019, foi a vez de Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, se reeleger presidente do governo espanhol (é esse mesmo o nome que os espanhóis dão ao seu chefe de governo), à frente de uma coalizão de esquerda.
E nas eleições para o Parlamento Europeu, que aconteceram entre os dias 23 e 26 de maio agora, ficou longe de se confirmar a estimativa da imprensa europeia e de analistas, segundo a qual a extrema-direita, inimiga de morte da Comunidade Europeia, obteria votação avassaladora.
Na França, a vitória de Marine Le Pen se deu por uma margem aquém da esperada, enquanto o triunfo da Liga Norte, do ministro do Interior italiano Matteo Salvini, se revelou insuficiente para alterar a correlação de forças no Parlamento Europeu. Os verdes e liberais que ocuparão a maioria das cadeiras formarão com a esquerda uma sólida maioria pró-euro.
Mas as boas notícias não se esgotaram com a eleição dos eurodeputados. Logo na sequência, na esteira da vitória da esquerda nas eleições de outubro de 2018, na Suécia, o eleitorado de outro país nórdico impôs uma dura derrota aos nacionalistas de direita: a Dinamarca elegeu a social-democrata Mette Frederiksen (foto), de 41 anos, para a chefia de governo, depois de uma campanha em que defendeu explicitamente ser contrária à redução de impostos, mantra dos conservadores de todo o planeta.
Mesmo com as mãos sujas de sangue pelo massacre do povo palestino, Benjamin Netanyahu, ferrenho aliado do presidente fascista brasileiro, venceu por estreita margem a eleição em Israel que aconteceu em abril. Mas sua alegria durou pouco. Como fracassou na missão de formar o governo, o Knesset, parlamento israelense, acaba de aprovar sua própria dissolução, marcando nova eleição para setembro.
Quem venha 2022 !