As mudanças promovidas por Bolsonaro e pela ministra Damares (uma das representantes da ala manicomial de seu governo) na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão hoje ligado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, equivalem a mais um tapa na cara dos familiares dos brasileiros e brasileiras assassinados pela ditadura militar.
Dias depois de agredir da forma mais vil o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, a besta que ostenta de forma indigna a faixa presidencial deu mais uma demonstração de que não há limites para sua sanha de ofender a memória dos que sacrificaram suas vidas pela causa da democracia e por uma sociedade mais justa e igualitária.
Nem toda a repercussão negativa do ataque a Santa Cruz nos meios políticos e jurídicos, na mídia e no conjunto da sociedade foi capaz de impedir a decisão do governo de aparelhar a comissão, trocando quadros com trajetória de militância na área de direitos humanos e com compromissos democráticos por militares obscurantistas e políticos do PSL.
Com essa operação, mutilou e feriu de morte a comissão. E, como não tem a menor noção do que seja conviver numa República, Bolsonaro justificou as alterações pelo fato dele ser de direita e ponto final.
Fica ainda mais distante o sonho dos familiares dos desaparecidos de ver reconhecido um direito repeitado desde os primórdios da humanidade, que é oferecer uma cerimônia fúnebre aos seus mortos, pranteá-los, guardar luto e seguir em frente, apesar da dor da perda.
Dos sete membros da comissão, quatro foram substituídos, conforme o Diário Oficial da União desta quinta-feira (1º de agosto). A procuradora Eugênia Gonzaga deixa a presidência, que passa a ser exercida por Marcos Vinícius Pereira de Carvalho, um ilustríssimo desconhecido, assessor de Damares. Imagina o nível.
No lugar do deputado federal petista Paulo Pimenta, entra o também deputado Felipe Barros Baptista de Toledo Ribeiro, do PSL do Paraná, com certeza um defensor ardoroso da República de Curitiba. Também saem a advogada Rosa Cardoso (ex-integrante e ex-presidente da Comissão da Verdade) e João Batista Fagundes (advogado e ex-deputado). Seus lugares serão ocupados pelas oficiais do Exército Vital Lima Santos e Weslei Antônio Maretti.
Não há espaço para ilusões: enquanto não for contido, Bolsonaro seguirá em frente na sua cavalgada insana de tentar reescrever, a partir de sua ideologia das trevas, a história do país com as tintas da mentira, da negação dos fatos e das evidências científicas.