Merece figurar em lugar destacado da história dos momentos mais repugnantes da imprensa brasileira, e olha que a concorrência é grande, o malabarismo antijornalístico praticado pela Globo para envolver Lula no noticiário sobre a crise causada pela política ambiental irresponsável do governo Bolsonaro.
A Amazônia arde com 17 mil focos de incêndio. Essa é a notícia mais importante do momento, tanto que ocupa as manchetes de jornais de praticamente todos os países. Contudo, a Globo e o editor do Jornal Nacional, Willian Bonner, resolveram ofuscar esse fato jornalístico de inegável relevância para incluir Lula neste enredo de forma enviesada e com viés nitidamente político, em suas edições dos dias 19 e 23 de agosto.
E o JN cuidou ainda de aliviar para Bolsonaro: “Não há informações fechadas ainda sobre o ano de 2019 pelo sistema Prodes. Esses dados, normalmente, são divulgados em janeiro do ano seguinte. Mas informações preliminares do Inpe indicam que o desmatamento em 2019 tem sido maior do que em 2018.”
Por que o JN não destacou a informação de que mais de 500 queimadas foram oficialmente autorizadas pelo governo, com Bolsonaro tendo inclusive estimulado o “Dia do Fogo?” Por que não foi enfatizado o deplorável episódio do afastamento do respeitado cientista Ricardo Galvão da presidência do Inpe, por ter divulgado dados reais sobre o desmatamento ?
Considero-me uma pessoa bem informada, mesmo evitando, para zelar por minha saúde física e mental, qualquer contato com o jornalismo tóxico produzido pela família Marinho. Mas isso não quer dizer, em hipótese alguma, deixar de combatê-lo. Hoje mesmo, depois receber de amigos os links das últimas matérias do JN sobre as queimadas da Amazônia, foi impossível não correr para o computador e escrever.
Às vezes as pessoas não se dão conta de que o jornalista Bonner não é apenas um leitor de teleprompter. Cabe a ele a edição do Jornal Nacional, exercendo grande influência na definição da pauta e dando a última palavra sobre o conteúdo das matérias, além da selecionar o que vai para o ar.
E se o noticiário do JN sobre as queimadas e o desmatamento da Amazônia fosse pautado por premissas básicas do jornalismo, obrigatoriamente focaria no essencial: o mundo (políticos, governos, ambientalistas, artistas, jogadores de futebol, imprensa e sociedade civil) está em guerra contra Bolsonaro, para salvar o planeta.
Virou pauta da reunião do G7, provocou a recusa da Alemanha e da Noruega de continuar financiando o Fundo Amazônia, mobilizou milhares de pessoas para protestos diante das embaixadas brasileiras no exterior e nas ruas, praças e avenidas do Brasil, fez a Nasa ligar o sinal de alerta, enfim criou uma comoção global como há muito não se via.
Mesmo assim, Bonner entra em cena para pinçar de forma descontextualizada declarações de Lula no passado acerca das interferências da Europa no debate sobre a Amazônia e comparar de maneira patética e mentirosa as políticas ambientais de Bolsonaro e Lula.
Se fosse o caso, qualquer comparação, para ser decente, teria que confrontar os seguintes fatos :
Lula criou o Fundo Amazônia.
Bolsonaro incentiva a invasão de terras indígenas e da floresta pelo agronegócio predador, madeireiros ilegais, mineradoras clandestinas e garimpeiros atuando à margem da lei.
Lula brilhou na maior da ONU conferência sobre o clima, realizada em Copenhague, na Dinamarca, e em todas as outras, bem como nos encontros do G-20 e demais fóruns multilaterais, assumindo compromissos ousados de metas de redução de CO2.
Bolsonaro se autodenomina o “Capitão Motosserra”, foge dos eventos mundiais mais importantes a respeito do assunto e nega as evidências científicas do aquecimento global.
Durante boa parte de seu governo, a ministra do Meio Ambiente de Lula foi Marina Silva, filha da floresta amazônica e líder ambientalista respeitada internacionalmente.
O ministro de Bolsonaro é um energúmeno que confessa não saber quem foi Chico Mendes e responde a processo criminal por dano ambiental, além de ser um dos expoentes da ala manicomial do governo atual.
Os governos de Lula bateram recordes seguidos de redução de desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro em sete meses elevou o nível de desmatamento a índices jamais registrados.