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Protesto é uma coisa, resistência é outra

Set 26, 2019

Por Bepe Damasco                                                                                                    

 

“Para que a gente seja capaz de impedir que esse governo destrua o país, a gente tem que ser capaz de passar do protesto à resistência de fato." O alerta é do cientista político Luis Felipe Miguel, em recente entrevista ao site Carta Maior.

O professor da UNB arremata: “Ela não é uma pensadora muito recomendada, porque foi líder de um grupo terrorista, mas a Ulrike Meinhof tem um textinho chamado ‘Protestar ou resistir’. Ela fala que tem um momento em que você tem que passar do protesto, que é simplesmente a verbalização de uma inconformidade, e chegar à resistência, que é a busca do impedimento de que aquilo aconteça. Estamos protestando contra as intervenções nas universidades, mas não estamos resistindo contra as intervenções nas universidades.”

Penso que Luis Felipe Miguel tocou em um ponto crucial para a oposição de esquerda ao bolsonarismo e democratas em geral. Melhor ainda, sem apresentar fórmulas prontas para a superação do problema, a não ser a  defesa difusa de outras formas de mobilização, voltadas para o trabalho de base e para a “organização densa no cotidiano.”

Penso ser conveniente esclarecer que, na minha visão, resistência está associada à adoção de ações, táticas e estratégias radicalizadas de luta, tais como ocupações de espaços públicos, greves, ações de desobediência civil, etc. As trajetórias de luta dos povos por independência, liberdade, democracia e soberania ao longo da história estão repletas de enfrentamentos deste tipo. No caso do Brasil, é bom assinalar, isso não pode e nem deve ser confundido com discussão sobre recurso à luta armada, o que seria uma total insanidade. 

Basta um olhar retrospectivo, porém, para as inúmeras passeatas e comícios de protesto contra o golpe de 2016, a reforma trabalhista de Temer e sua tentativa de reformar a previdência, a terceirização irrestrita, o congelamento dos gastos sociais, e agora, no governo Bolsonaro, outra vez a reforma da previdência, os ataques à educação e a entrega do patrimônio público, para concluirmos que é preciso dar alguns passos adiante em termos de alternativas de mobilização e enfrentamento.

Abre parênteses: essas manifestações, embora tenham levado multidões às ruas, e tenham cumprido papel político importante, não lograram atrair a classe trabalhadora e o povão, mas sim a vanguarda social e política do país, além de estratos da classe média progressista.Fecha parênteses. 

O busílis da questão está em como passar da fase do protesto para a resistência. Isso se daria com que recursos humanos e materiais? O atual estágio de consciência política do povo permite esse salto de qualidade e a capilarização da radicalização democrática?

De pronto, eu responderia negativamente a essas perguntas. No entanto, é mais do que urgente que os coletivos, os movimentos sindical e social, a mídia contra-hegemônica e os partidos de esquerda atuem para mudar o quadro atual de letargia e comecem, pelo menos comecem, a pavimentar esse caminho, com a perspectiva de que um dia esse objetivo seja atingido.

Isso de forma alguma significa não reconhecer como essenciais os grandes protestos nacionais pela educação, as greves gerais que as centrais sindicais convocaram em 2017 e 2019, as mobilizações de mulheres, negros e LGBTs para manter direitos civilizatórios, a luta para barrar o rolo compressor privatizante do governo fascista, dentre tantos outros embates que sociedade tem travado para resgatar a democracia e a soberania. Trata-se apenas da constatação de que essa tática está aquém da gravidade do momento.

A realidade é dura. Em crise, os sindicatos fazem das tripas coração para sobreviver, depois que sua principal fonte de financiamento foi cortada. Já os partidos do campo democrático e popular encontram sérios obstáculos para falar aos corações e mentes de um povo em geral desiludido e contaminado pela desinformação do oligopólio da mídia.  

Dez entre dez militantes apontam a organização popular como a panaceia para os males da esquerda. Mas o mundo e a sociedade mudaram. Nos anos 80, 90 e 2000 os habitantes das favelas e bairros periféricos se organizavam nos movimentos de luta contra a carestia, a falta de água, de luz, de transporte. Mas, hoje, será que esse cidadão valoriza este tipo de organização? Como disputar com a pregação diuturna das igrejas neopentecostais? Como fazer o jovem pensar coletivamente em uma sociedade egoísta e individualista?

Desafios para ninguém botar defeito.

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