O alvoroço causado em alguns setores da banda democrática da sociedade pela divulgação da pesquisa Veja/FSB, na qual Bolsonaro aparece na frente na corrida presidencial de 2022, me trouxe à cabeça o refrão do famoso rock dos Titãs, mas com uma oportuna troca de palavras.
O meu ponto é o seguinte: a quem interessa uma pesquisa como essa, feita por telefone – o que já reduz sensivelmente seu grau de confiabilidade, pois do contrário os grandes institutos não precisariam contratar milhares de pesquisadores de campo- e sem registro na justiça eleitoral, o que deixa o levantamento a salvo de questionamentos legais e ações de fiscalização?
Ninguém sabe a metodologia utilizada pela revista Veja, um dos bastiões do conservadorismo golpista da imprensa nativa, e por sua sócia no empreendimento, a empresa de assessoria de imprensa FSB. Nenhuma das duas, diga-se, tem qualquer experiência no ramo das pesquisas de opinião.
Não é preciso bola de cristal, no entanto, para responder à questão colocada no título deste artigo: quem precisa dessa pesquisa é o chamado mercado, eufemismo para sanguessugas que amealham fortunas sem trabalhar, navegando nas águas cálidas do rentismo.
Sim porque Bolsonaro significa a continuidade das políticas de entrega do patrimônio público a preços de xepa de fim de feira, o roubo dos direitos do povo para transformá-los em filão para negócios bilionários dos bancos e o avanço avassalador rumo a uma sociedade voltada apenas para cerca de 40 milhões de brasileiros, condenando os 180 milhões de pessoas à exclusão, à pobreza e à miséria.
Pesquisa eleitoral serve para medir a pulsação do eleitorado, detectar suas tendências e avaliar as possibilidades de candidaturas e partidos. Mas pesquisa feita a três anos da eleição é de serventia para lá de duvidosa. Bolsonaro é candidato à reeleição, o já eterno candidato Ciro Gomes está em campanha e Dória e Witzel não escondem o desejo de concorrer. Contudo, não se sabe ao certo como se conformará o quadro de candidaturas.
E mais: como dar crédito ao resultado apurado por Veja/FSB, quando todos os institutos, incluindo Datafolha e Ibope, que têm tradição e nomes a zelar, apontam para uma queda vertiginosa da popularidade de Bolsonaro e da reprovação de seu governo, a ponto de “consagrá-lo” como o presidente mais impopular da história em início de mandato?
E a percepção da forte queda de Bolsonaro não depende de institutos de pesquisa. Basta andar pelas ruas, conversar com as pessoas na fila do mercado, no banco, no botequim. Vale dizer que o capitão nazista ainda detém considerável apoio na sociedade, algo em torno de 25% da população. Mas seu desgoverno indica que ele dificilmente conseguirá manter esse patamar.
Termino com duas indagações: por que o Datafolha e o Ibope há tanto tempo não fazem pesquisas sobre os índices de aprovação do governo Bolsonaro? Estaria também o mercado por trás disso?