O vazamento da notícia de que os auxiliares próximos de Bolsonaro estão preocupados com a repercussão negativa nas redes sociais do comportamento insano e irresponsável do presidente em relação à pandemia de coronavírus ainda é só o começo. É que já se percebe nas ruas que ele pode ter atravessado o Rubicão.
Seus gestos tresloucados provocaram fissuras na sua popularidade mesmo entre a escória da sociedade brasileira que forma o núcleo duro do bolsonarismo. Esse é ainda seu último bastião, já que é o presidente mais mal avaliado para um ano e poucos meses de mandato desde a redemocratização do país.
As pessoas que idolatram o capitão imbecil se identificam justamente com sua ignorância monumental, sua misoginia, homofobia, racismo e todo tipo de preconceito que exala.
Complexada e estúpida, essa parcela minoritária da população delira com seus ataques sistemáticos à ciência, à cultura e às artes.
Contudo, quando o assunto é a preservação da saúde e da vida, o buraco é mais embaixo. Ao romper o isolamento médico ao qual estava submetido para cumprimentar populares no último domingo, estimular aglomerações e desdenhar da doença em várias entrevistas, Bolsonaro passou a ser visto até por apoiadores como uma ameaça às suas vidas e a de seus familiares.
Escrevo antes do panelaço marcado para esta quarta-feira (18). Mas a insatisfação com Bolsonaro provocou uma inédita e bem-vinda manifestação de ansiedade por parte de moradores do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Recife.
Como a tragédia sanitária causada pela pandemia do coronavírus não permite mobilizações de rua, o protesto nas janelas não pôde esperar nem a data marcada e acabou antecipada espontaneamente para a noite de terça-feira.
Tudo bem que o panelaço partiu, basicamente, da classe média. Isso, porém, não retira a importância do episódio. Aposto que entre os manifestantes encontra-se um número considerável de eleitores arrependidos de Bolsonaro.
A situação de excepcional gravidade causada pela propagação do Covid-19 é um elemento da realidade que acaba protegendo Bolsonaro, pelo menos no curto prazo, tornando difícil o avanço de um movimento que ameace de forma mais real e concreta seu mandato.
Mas o imponderável também pode acontecer, pois ninguém é capaz de prever as consequências da pandemia. Além de perdas de um sem número de vidas, a propagação do novo coronavírus no Brasil aponta para um desastre econômico e social sem precedentes. E qualquer cidadão com mais de dois neurônios sabe que Bolsonaro está a anos luz de ter condições de liderar o país na travessia desta tormenta.