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Surto de moderação global será posto à prova domingo

Ago 11, 2015

Por Bepe Damasco                              

 

 

Vejo ainda com desconfianças e reservas a propalada inflexão editorial das Organizações Globo rumo a uma postura mais responsável na abordagem da crise política que vive o país. A julgar pelos seus editorais e notícias recentes, a empresa dos Marinho também colocou um ponto final no apoio cego aos desmandos insanos de Eduardo Cunha à frente da Câmara dos Deputados, passando a criticá-lo duramente.

Contudo, recomenda-se muita calma nessa hora. Se é possível que os apelos ao bom senso e ao respeito às regras do jogo democrático para preservar a economia do país, feitos pelos donos do meios de produção e do capital, os presidentes da Fiesp, Firjan e do Bradesco, tenham feito a Globo entender o risco de jogar fora a água da bacia levando bebê junto, também não é fácil acreditar no súbito surto democrático de quem carrega o golpismo e a oposição às boas causas do povo brasileiro no DNA.

De fato, já se percebe uma mudança de tom e conteúdo tanto nos editoriais como no noticiário dos veículos de comunicação da Globo. Nesta segunda-feira (10), a fala da presidenta Dilma condenando os que apostam no vale-tudo contra o Brasil, durante a entrega de casas do Minha Casa, Minha Vida, no Maranhão, reinou com letras garrafais e fotos enormes durante praticamente a tarde inteira no Globo Online.

Também dão o que pensar o editorial do jornal O Globo de sexta-feira passada, atacando Cunha e defendendo a governabilidade de Dilma para o bem do país, bem como a repentina serenidade adotada pelos apresentadores do Jornal Nacional. Há quem diga, e é importante prestar atenção nesta tese, que tudo não passa de um movimento calculado para livrar a cara da Globo no caso de o golpe se consumar. Coisa de quem amarga a mancha infame em sua história de ter apoiado o golpe e a ditadura de 1964.

Segundo essa visão, a Globo estaria apenas criando as condições para respaldar um argumento cretino a ser usado lá na frente, tipo : "Nós fomos contra, mas não teve jeito, o povo nas ruas quis o golpe e a classe política também." Hoje mesmo, terça (11), o hidrófobo Arnaldo Jabour já aparece nos meios de comunicação globais pregando a renúncia de Dilma. Para evitar crises de ânsia de vômito, não leio a coluna do Merval Pereira. Mas será que o porta-voz do golpe acompanhará a inflexão dos seus patrões ? Penso ser pouco provável.

Tudo pode não passar de um jogo de cena, concebido de forma cínica. Quer um exemplo : na  reunião de senadores petistas com João Roberto Marinho, ocorrida na semana passada, os parlamentares do partido desfiaram um rosário de críticas à atuação da Globo. Na "lata" de um dos donos da Globo falaram das manipulações, mentiras, dois pesos e duas medidas para petistas e tucanos, seletividade das denúncias da Lava Jato para incriminar somente o PT, vazamento de informações sob segredo de justiça, criminalização do PT e da política, apoio às irresponsabilidades de Cunha, defesa do golpe contra Dilma, tentativa de destruição da imagem do ex-presidente Lula, entre outras canalhices da Globo.

Resposta  do João Roberto Marinho : "Nossa, ou nós estamos errando muito ou vocês não estão entendendo nada. Vou falar com meus editores para ver o que está acontecendo, pois não é essa a nossa intenção." Sem maiores comentários, apenas a sugestão para que o Guinness Book, o livro dos recordes, crie uma seção destinada às declarações mais cínicas. Essa de JRM seria imbatível.

Mas domingo, 16, está chegando. As manifestações dos coxinhas, golpistas e fascistas pela quebra da ordem constitucional servirá como ótimo parâmetro para se avaliar as reais intenções da Globo. Se derrubar a grade de programação, sacrificando até programas tradicionais da emissora, como o Esporte Espetacular, para transmitir ao vivo às manifestações e convocar o telespectador a ir para a rua, como fez de outras vezes, aí ficará claro que sua súbita conversão  ao respeito à soberania popular e à democracia vale tanto quanto o "pluralismo e isenção" de seu jornalismo.

Ou seja, zero.

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