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A pedra do caminho

Jul 04, 2020

Por Bepe Damasco                                                                                                                 

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)

A ideia de abrir este texto com trecho do poema “No meio do caminho”,do grande poeta mineiro, surgiu diante do fato político novo da semana, que foi o repentino silêncio de Bolsonaro e suas consequências e impactos na conjuntura política do país.

O novo movimento da oposição liberal de direita, liderada por FHC e pela Globo, tem nítidos propósitos: se Bolsonaro parar de falar merda (leia-se atacar a democracia e ameaçar as instituições, dia sim, outro também) ganha uma espécie de salvo conduto para aplicar seu programa ultraneoliberal de destruição do país, especialmente dos pilares que sustentam os direitos sociais e a soberania nacional.

Já manifestei em artigos anteriores a minha posição favorável à formação de uma frente democrática ampla para proteger o regime democrático e livrar o Brasil da barbárie bolsonarista. Em paralelo, é fundamental que a esquerda e os setores populares e progressistas se organizem em frente própria, para defender os direitos sociais e pavimentar o caminho para disputar o poder com seu projeto de país.

Mas viver é difícil. O arrefecimento do ânimo da direita liberal em participar de movimentos da sociedade que apontem para o “Fora Bolsonaro” como elemento central da luta civilização versus barbárie realça algumas evidências:

1) A única coisa que incomoda de fato a burguesia em Bolsonaro são seus maus modos. Nem mesmo o morticínio diário de mais de mais de mil brasileiros, consequência direta da política genocida do presidente na pandemia, é capaz de sensibilizar a chamada “direita republicana”. As aspas chamam a atenção para o ralo compromisso democrático dos ditos liberais, que não hesitam em apelar para golpes de estado para fazer valer seus interesses de classe.

2) É ilusório imaginar que a maior crise de saúde em 100 anos poderá “amolecer o coração” dos agentes políticos do mercado financeiro, que hoje contam com folgada maioria no Congresso Nacional e têm a Rede Globo como porta-voz. A aprovação em plena pandemia das novas regras para o saneamento, eufemismo para a privatização de um bem essencial à vida como a água, revela que pretendem dobrar a aposta, no pós-pandemia, nas reformas antipopulares e antinacionais de Guedes-Bolsonaro.

O pé no freio da elite às articulações que questionam o mandato de Bolsonaro, em nome do apoio ao seu programa de governo, devia provocar uma reflexão no grande número de militantes tipo “ombudsman” da esquerda, estes que só apontam erros, debilidades e omissões no nosso campo, às vezes até poupando os adversários políticos e ideológicos.

Só para dar um exemplo: outro dia postei nas redes sociais uma crítica dura à alienação, estupidez e egoísmo das pessoas que furam o isolamento social, flanando por bares e praias como se nada estivesse acontecendo. Entre os comentários, recebi a seguinte reprimenda: “Nós da esquerda temos culpa, pois não estamos sabendo explicar direito o grave problema da pandemia.” Como assim? Os meios de comunicação bombardeiam dia e noite as pessoas com informações sobre o alto risco de contaminação e tem gente que responsabiliza a esquerda pela falta de humanidade de expressiva parcela da população?

Voltando ao eixo principal, não é fácil se relacionar politicamente, fazer alianças pontuais e avançar nas políticas de frente com uma burguesia tão sabuja, mesquinha, antidemocrática e desprovida de projeto de nação.

Devemos, então, abandonar a perspectiva da constituição de frentes democráticas para enfrentar o fascismo? Claro que não. Nosso compromisso com o Brasil e o povo brasileiro impõe a necessidade de insistirmos nesse caminho. Até porque, se der errado, que o ônus seja da direita.

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