Este título do livro autobiográfico de Apolônio de Carvalho, um gigante na luta por liberdade e igualdade, emoldura com perfeição o sentimento experimentado por mim no dia seguinte à decisão do plenário do Supremo.
A anulação de todas as condenações de Lula pela quadrilha da Lava Jato de Curitiba é daqueles fatos épicos, cuja importância histórica será objeto de análise de pesquisadores desta e das próximas gerações.
Por ora, cabe assinalar que essa é uma vitória de todos os democratas e lutadores políticos e sociais que travaram o bom combate nas ruas, nas redes, nos partidos do campo popular e sindicatos, nas escolas e universidades, na imprensa contra-hegemônica e nas entidades da sociedade civil.
Sim, porque a causa de Lula transcende em muito a ele próprio, ao seu partido e ao conjunto da esquerda. Ela pertence a toda a cidadania que não abre mão de viver sob a égide do estado democrático de direito.
Os advogados de Lula, comandados pelo doutor Cristiano Zanin, merecem aplausos, pois desde o início da perseguição judicial sofrida pelo ex-presidente vêm defendendo nos tribunais exatamente as teses que agora triunfam. E jamais esmoreceram ante o rolo compressor judiciário-midiático montado para referendar as barbaridades emanadas de Curitiba. No campo do enfretamento jurídico, também tiveram papel importante vários juristas, cujos saber e prestígio em muito contribuíram para encurralar o lavajatismo.
E não há como não lembrar neste momento e honrar a memória dos que ficaram pelo caminho, abatidos direta ou indiretamente pela sanha criminosa da Lava Jato.
Como esquecer o sacrifício de Dona Marisa Letícia, ou do reitor Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina? E das outras perdas que Lula sofreu durante seu cárcere injusto e infame de 580 dias, como seu neto e seu irmão?
Por outro lado, o regime democrático será para sempre grato aos bravos integrantes da Vigília Lula Livre que estiveram firmes em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba durante o longo martírio do ex-presidente. Todo o Movimento Lula Livre está de parabéns por sua obstinação e paciência histórica.
Antes mesmo de as informações impactantes da Vaza Jato e da Operação Spoofing virem à tona, um grupo de mulheres militantes marcava ponto todas as semanas diante do Ministério Público no Rio, com suas faixas e cartazes e, sobretudo, sua indignação diante da prisão de Lula. De lá só arredaram pé quando Lula foi libertado.
Cito estes dois exemplos de mobilização para homenagear através deles todos os homens e mulheres que aderiram à luta pelo respeito à Constituição e para fazer valer a democracia, regime em que o sistema de justiça não pode em hipótese alguma se pautar por objetivos políticos.