Caso se confirmassem as previsões apocalípticas feitas, na melhor das intenções, por importantes vozes da esquerda e do campo progressista, o cenário desta quarta-feira, 8 de setembro, seria de golpe consumado e de terra arrasada.
As imagens das sedes do Congresso Nacional e do STF, depois de invadidas pelas hordas fascistas e incendiadas, percorreriam o mundo, enquanto os militantes do campo popular cuidariam de seus feridos e até pranteariam seus mortos.
A arruaça criminosa teria os efetivos da Polícia Militar rebelados na linha de frente, apoiados por setores das forças armadas e das polícias civil e federal.
Estamos todos aliviados por nada disso ter se confirmado. Mas quem entre nós não leu textos alertando os democratas e socialistas para a iminência desses ataques terroristas no 7 de setembro?
O alarmismo gerou apreensão e medo do nosso lado e os atos do Grito dos Excluídos e do movimento Fora Bolsonaro acabaram esvaziados.
Claro que os descerebrados que babam de ódio e apoiam cegamente seu chefe poderiam perfeitamente ter protagonizado todas as barbaridades antevistas por várias cabeças pensantes da esquerda.
Quem sou eu para dar conselho a quem quer que seja, mas algumas doses de cautela e racionalidade são sempre bem-vindas.
Como, por exemplo, enxergar perigo de confronto no Rio se os atos dos fascistas e da oposição de esquerda estavam separados por mais ou menos 15 quilômetros, que é a distância entre o Centro da cidade e Copacabana?
Como dar como favas contadas que as tropas da PM seriam as molas propulsoras do golpe se o motim não contava com a cumplicidade da maioria esmagadora dos comandantes e de nenhum governador?
Não acredito, por óbvio, na convicção democrática de soldados, oficiais e comandantes da PM. Todos sabem que o bolsonarismo grassa nas PMs de todos os estados.
Mas daí a cravar que eles estão prontos para marchar pela ruptura da ordem constitucional vai uma distância. A premissa básica para que isso ocorra é a existência de clima de deterioração completa das instituições da democracia, o que ainda não vivemos no Brasil.
No fim, a montanha pariu um ratinho. Bolsonaro mostrou mais uma vez que é um tigre desdentado, um cão hidrófobo que late, mas não morde. Seu sonho dourado de dar um golpe de estado e implantar uma ditadura esbarra na realidade: o capitão não tem força nem apoio suficiente para essa aventura golpista.
Na minha visão, pouco importa a quantidade de fanáticos que se mobilizaram para a micareta de 7 de setembro, afinal 25% de seguidores é percentual mais do que suficiente para colocar gente na rua.
Embora contassem com dinheiro a rodo e tenham sido convocadas pessoalmente por Bolsonaro ao longo dos últimos dois meses, as manifestações antidemocráticas ficaram bem distantes de atingir a expectativa de público projetada pelo delírio bolsonarista.
Em São Paulo, por exemplo, compareceram algo em torno de 125 mil pessoas, quando os organizadores esperavam 2 milhões. Com dinheiro a rodo, os atos, no entanto, fracassaram no que se refere ao seu objetivo maior que era o de emparedar as instituições.
Ao contrário, em um efeito bumerangue o delinquente que ocupa a presidência da República cavou ainda mais fundo seu isolamento ao acrescentar mais crimes à sua longa lista de delitos.
Olhando para frente, estão dadas as condições para a realização de uma megamanifestação pelo impeachment de Bolsonaro, seja para responder às mobilizações da extrema-direita, ou porque o Brasil não suporta mais ser governado por um criminoso do calibre de Bolsonaro.
Oxalá prevaleça a tese da unidade de todas as forças que desejam livrar a nação desse pesadelo.