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Cabeça fria para enfrentar sete meses no olho do furacão

Fev 26, 2022

Por Bepe Damasco                                                                                                                       

                                                                                                 

Quando passar mais um estranho carnaval que não é carnaval, desembocaremos em março. Aí faltarão sete meses para a eleição de outubro. Dia desses por curiosidade dei uma pesquisada para saber como estava a situação de Lula no Datafolha em fevereiro de 2002 e fevereiro de 2006, anos em que Lula saiu vitorioso das eleições.

Em 2002, Lula aparecia numericamente acima de Roseana Sarney, mas em situação de empate técnico: 28% a 26%. Quatro anos depois, os tucanos ainda mantinham acesa a disputa entre Alckmin e Serra pela vaga de candidato do PSDB à presidência. No cenário com Serra, empate: 34% Serra, 33% Lula. Na simulação contra Alckmin, que acabaria vencendo a queda de braço interna e se lançando candidato, Lula liderava com certa folga por 36% a 20%.

Relembrar esses números é importante para observarmos como o panorama das pesquisas de 2022 é bem mais confortável para Lula, que ultrapassa os 40% em todos os levantamentos, chegando a obter 48% na última do Datafolha, tido como o instituto mais confiável, embora não impermeável a falhas.

Este ano temos a novidade de uma gama enorme de institutos (muitos contratados por agentes do mercado financeiro e usando a metodologia mambembe da consulta telefônica) divulgando resultados praticamente todos  os dias.

Contudo, a ótima performance atual de Lula nas pesquisas está longe de significar certeza de vitória, como apregoam os militantes mais entusiasmados. A possibilidade de Lula liquidar a fatura já no primeiro turno está mais para “sonho de uma noite de verão” do que para a realidade, em que pese todos os esforços devam ser feitos para que a eleição não vá para o segundo turno.

Mas não é fácil. Nem no auge da popularidade de seus governos, o PT venceu eleição presidencial no primeiro turno. Pelo simples motivo de que existe direita e extrema-direita no país. Como desprezar a força do conservadorismo fortemente assentada no mercado financeiro, agronegócio, fundamentalismo religioso, nas milícias, nas polícias, nos militares e grupos de mídia?

Ciente de todos esses obstáculos, ainda agravados por um governo neofascista, encabeçado por um presidente que atenta diuturnamente contra as instituições e o sistema democrático, o PT faz a coisa certa ao negociar com o centro e apostar na construção da federação com outras forças do campo progressista.

Quem sintetizou com perfeição a centralidade dessa tática foi José Dirceu em recente artigo publicado no Poder 360: “Quem impõe a nós alianças com o centro é a correlação de forças e o adversário. Não depende de nós.”

É preciso ter sangue frio e cabeça no lugar. Tenho confiança na vitória, mas prevejo uma eleição disputadíssima, com subida real de Bolsonaro nas pesquisas, manipulação de pesquisas contra Lula, toda sorte de jogo sujo e antidemocrático por parte do bolsonarismo, além da tradicional ação em ordem unida dos grupos de mídia contra o PT.

Dividiria em dois blocos a ofensiva desesperada que vem por aí para tentar impedir a eleição de Lula e as armas que provavelmente serão utilizadas pelos adversários:

Bolsonaro/fascismo – Uso sem limites da máquina administrativa; campanha eleitoral antecipada à margem da lei;  taxar Lula de ladrão dia sim outro também, ignorando todas as sentenças favoráveis a Lula que deixaram claro a suspeição de Moro e os processos fraudulentos contra o ex-presidente; remake da fakeada de Juiz de Fora; recurso à violência durante a campanha; calúnias, injúrias e difamações através da disseminação de fake news em escala jamais vista; aumento significativo dos ataques ao sistema eleitoral e à confiabilidade das urnas eletrônicas.

Terceira via/grupos de mídia – Insistência na tese amplamente desmentida pelos fatos de que o “PT quebrou economicamente o Brasil”; tentativa de colar em Lula e no PT a pecha da irresponsabilidade fiscal; aposta ainda maior na comparação descabida entre os “radicalismos” do PT e de Bolsonaro; exploração  da falácia de que houve “corrupção sistêmica” nos governos do PT; massificação da narrativa de que Lula não foi absolvido, mas sim teve seus processos anulados.

Mas venceremos.

 

 

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