Depois que o STF decidiu pôr fim à deformação das eleições brasileiras através do dinheiro, proibindo doações de empresas a candidatos e partidos, representantes da direita e seus porta-vozes no monopólio da mídia reagiram de forma furiosa.
Direto ao ponto : a verdadeira causa do esperneio é a mudança geral do panorama das próximas eleições, nas quais os partidos de esquerda, especialmente o Partido dos Trabalhadores, por contarem com militância não paga, projeto coletivo e ideologia, podem sair em vantagem.
A reação colérica de Gilmar Mendes durante o julgamento deve ser creditada a essa constatação. Consciente dos potenciais prejuízos eleitorais que a decisão pode trazer ao seu partido, o PSDB, Gilmar protagonizou uma cena patética e constrangedora no STF, sobre a qual recomendo fortemente o discurso do deputado Wadhi Damous, disponível em vídeo que circula pela internet.
Está criado um problema daqueles para os partidos do campo conservador, do centro à direita. O desafio do PSDB, DEM, PPS, PMDB, PSD, PP, PTB, PROS, Solidariedade, bem como das legendas de aluguel que infestam o nosso sistema partidário, é conseguir um único militante voluntário para desfraldar suas bandeiras nas ruas, simplesmente porque em suas fileiras não existem militantes, mas apenas cabos eleitorais pagos.
A chiadeira dos magnatas do cartel da mídia não passa, portanto, de um mal disfarçado esforço retórico para encobrir o essencial, que é temor de que a militância do PT faça a diferença nas eleições. Está bem vivo na memória nacional o mutirão, a corrente ou a "vaquinha", como queiram, dos militantes e simpatizantes do partido para pagar as multas milionárias impostas pela justiça aos condenados na Ação Penal 470.
E o que tira o sono da Globo, Abril e Folha (o Estadão foi o ponto fora dessa curva, já que aplaudiu a decisão do Supremo) é uma pergunta simples : que outro partido seria capaz de tal proeza ? Aturdidos, sobram sandices e bravatas em suas críticas.
A Folha fez um malabarismo incompreensível quando, ao manifestar seu temor de que sindicatos, igrejas e ONGs interfiram no resultado das eleições, disse que essas instituições não necessariamente pertencem ao "povo". Como ??!!
Veja adotou a linha de se solidarizar com Gilmar, aliado para o que der e vier do PIG, considerando a decisão "uma estupidez", pois as campanhas doravante abrirão espaços para a lavagem de dinheiro, como se toda lei não carecesse de fiscalização e punição em casos de violação.
Já o Globo alertou em editorial que o principal efeito colateral do fim do financiamento empresarial será a "institucionalização do caixa dois", como se em todas as atividades privadas e públicas meliantes não estivessem à espreita, prontos para dar o bote. Cabe ao Estado reprimi-los através de mecanismos e instrumentos eficazes.
No entanto, tudo isso é um tipo ralo de cortina de fumaça, insuficiente para esconder o que qualquer cidadão que não integre o universo dos analfabetos políticos já percebeu : a indignação da direita e da mídia contra a corrupção é falsa, cínica, hipócrita, demagógica e seletiva. Foi assim com Vargas e Jango. É assim com Lula e Dilma.