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Discutindo, com os pés no chão, o golpe de Bolsonaro

Mai 13, 2022

Por Bepe Damasco                                                                                          

 Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

1) Bolsonaro sabe que são enormes as chances de perder a eleição. Por isso, elegeu o sistema eleitoral como inimigo número 1. Como o fascismo vive da mentira e da criação de realidades paralelas, ele ataca a urna eletrônica brasileira, cuja confiabilidade já foi testada e aprovada em diversas eleições e é elogiada no mundo inteiro. A cúpula das forças armadas se associou a Bolsonaro nessa empreitada antidemocrática.

Mas o TSE e o STF têm subindo o tom na defesa da lisura das eleições, rechaçando a intervenção descabida e ilegal dos militares no processo. Aliás, foi por obra e graça do ministro Barroso que a justiça eleitoral resolveu dormir com o inimigo ao convidar os militares para uma comissão com a finalidade inacreditavelmente ingênua de aumentar a transparência do processo.

2) Bolsonaro conta com o apoio de milicianos, parte das forças armadas e contingente expressivo das polícias e já insufla a céu aberto milhões de pessoas, para as quais facilitou a posse e o porte de armas, a se insurgirem contra a derrota eleitoral que se avizinha.

Mas a elite econômica e política do país, sem o apoio da qual qualquer tentativa de ruptura da ordem constitucional está fadada ao fracasso, não vê com bons olhos a aventura golpista de Bolsonaro. Mesmo políticos com ralas convicções democráticas temem ver seus mandatos colocados em xeque pelo golpe. Já os capitalistas sabem que a estabilidade institucional é fator importante para seus negócios.

3) Bolsonaro dá pistas de que pretende pôr em marcha uma versão brasileira do episódio da invasão do Capitólio. E essa ameaça é para se ser levada a sério, dado o grau de banditismo que impera no bolsonarismo.

Mas não deu certo com Trump e o mais provável é que, no Brasil, não só o tiro saia pela culatra, como pode levar ao isolamento total e à execração máxima de Bolsonaro.

4) Bolsonaro aposta no caos e na desordem como pretextos para rasgar a Constituição e implantar um governo de exceção durante um período “emergencial” até as coisas se “acalmarem”.

Mas, no mundo globalizado de hoje, é dificílimo sustentar governos totalitários, frutos de golpe de estado, perante à comunidade internacional. A União Europeia, a ONU, e até mesmo os EUA, se negariam a reconhecer um governo despótico. O Brasil, consolidado como pária internacional, sofreria sanções econômicas, que gerariam enormes prejuízos para o comércio exterior do país.

5) Bolsonaro pode atrair para sua intentona, além de militares, policiais, milicianos e descerebrados armados até os dentes, parte do agronegócio, além do fundamentalismo evangélico.

Mas ainda existe sociedade civil no país, instituições da República (embora combalidas), movimentos sociais, partidos de esquerda e até mesmo de centro e de direita que reagiriam ao golpe. Artistas, jovens, e movimentos de mulheres, de negros,  LGBTQIA+ e indígenas também seriam fortes empecilhos para os planos dos golpistas. E parcela considerável da mídia, Rede Globo à frente, não endossaria a ditadura bolsonarista.

Resumo da ópera: a democracia corre risco de fato, pois Bolsonaro quer dar o golpe e se perpetuar no poder. Mas, colocando na balança todos os elementos e variáveis, vemos que a concretização desse projeto totalitário está longe, muito longe, de ser um passei no parque.

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