Luiz Carlos Braga e Hélio Doyle, presidente da estatal que não se incomodou com as declarações do jornalista e preferia mantê-lo no cargo - Foto: EBC
Luiz Carlos Braga foi demitido da Empresa Brasil de Comunicações (EBC) dois meses após reestrear na estatal. O afastamento ocorreu após o Brasil de Fato noticiar que o jornalista disse, em uma entrevista ao Podcast61, em novembro de 2022, que não houve ditadura militar no Brasil, elogiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e criticar a eleição do atual mandatário do país, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A demissão foi confirmada ao Brasil de Fato pela assessoria da estatal. Na nota, a a empresa foi lacônica mais uma vez: “Houve um entendimento mútuo, entre a EBC e o jornalista Luiz Carlos Braga, para ele deixar de prestar serviços para a empresa”.
Na última segunda-feira (9), a estatal já havia relativizado a negação da ditadura militar no país. “O jornalista Luiz Carlos Braga foi contratado para o telejornal Repórter Brasil por critérios estritamente profissionais. Não cabe à EBC concordar ou não com o que ele afirmou antes de vir para a empresa e na condição de jornalista”, afirmou a empresa pública.
Nos bastidores, as declarações incomodaram o Palácio do Planalto, que fez pressão pela saída do jornalista. De acordo com fontes escutadas dentro da EBC pelo Brasil de Fato, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, seria o integrante do governo mais incomodado com Braga, principalmente pelo questionamento à eleição de Lula.
Análise: Oito meses de governo e ainda sem comunicação pública
Quando perguntado sobre o que pensava de Lula, Braga afirmou que “é um cara que curto pela história”, mas criticou a ascensão do mandatário brasileiro ao poder. “Me assusta o fato de você ter uma pessoa condenada em várias instâncias ter virado presidente, porque foram anuladas todas as condenações. Aí você pensa: 'Todos esses juízes estavam errados?'”, questionou.
Ainda sobre Bolsonaro, Braga criticou a postura da imprensa brasileira. “Foi uma coisa muito partidária da minha profissão, dos meus colegas jornalistas. Todo mundo decidiu que não gostava do cara e vamos acabar com o cara”, pontuou.
Internamente, servidores da EBC se incomodam com o excesso de bolsonaristas no comanda da empresa. Já o presidente da estatal, Hélio Doyle, demonstrou não se incomodar com as declarações do jornalista, tentou contornar a situação e mantê-lo na empresa. Mas perdeu.
Passagem pela EBC
Braga trabalhou na EBC durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre os anos de 2020 e 2022. Em julho deste ano, foi recontratado pela estatal para o cargo de editor-chefe e, em 7 agosto, passou a apresentar o programa Repórter Brasil, na TV Brasil, que é transmitido diariamente, às 19h.
Nesta nova passagem, foi contratado pela EBC por meio de sua empresa, a Luiz Carlos Braga Comunicações Ltda, por onde estava recebendo mensalmente R$ 28.500. O contrato abrange também o valor pago à jornalista Maria Paula Sato, que, em sua primeira experiência na estatal, encerrada em março de 2022, recebia R$ 18.000.
Luiz Carlos Braga estava à frente, desde 7 de agosto, do Repórter Brasil, programa diário da grade da TV Brasil, onde dividia a apresentação com a jornalista Maria Paula Sato. Ela permanecerá na empresa, após conversa com a direção, mas será realocada em outro projeto.
Edição: Rodrigo Chagas