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Ao fazer um lobby lesa-pátria junto a Donald Trump pela adoção do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras, a extrema-direita nativa, na pessoa de Eduardo Bolsonaro, deu, talvez, o maior tiro no pé que se tem notícia na história das disputas políticas nacionais.
Sabemos todos que pensamento estruturado e táticas e estratégias bem delineadas costumam passar longe dos fascistas do Brasil.
Mas, dessa vez, eles se superaram.
Em uma só tacada, a agressão contra o nosso país estreitou os laços do governo Lula com o setor industrial; quebrou o gelo com o agronegócio, sempre refratário por razões político-ideológicas a negociações com o Planalto; despertou em segmentos expressivos da sociedade o sentimento nacionalista de defesa da nação; forneceu ao governo Lula a chance de ouro de liderar a resistência aos ataques de outro país, zelando pelos interesses das nossas empresas e lutando para preservar empregos.
De quebra, ainda afastou o Centrão da pauta bolsonarista, tornando remota a possibilidade de votação da anistia para os golpistas de 8 de janeiro de 2023, óbvio biombo para camuflar o objetivo maior, que é evitar a prisão de Bolsonaro.
Só que livrar a cara de Bolsonaro hoje é uma missão praticamente impossível, especialmente após às robustas alegações finais da Procuradoria-Geral da República, repleta de provas cabais contra a organização criminosa.
Os editoriais do Estadão, Folha de São Paulo e O Globo, por sua vez, condenando em termos contundentes a ação bolsonarista que levou à taxação absurda dos produtos brasileiros, alvejou em cheio também o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que se queimou com sua reação de apoio a Trump.
Sua candidatura presidencial virou alvo da mídia comercial. "Fósforo queimado" e "falta de estatura moral, política e ética" foram apenas algumas das críticas feitas ao governador.
Políticos com o perfil de Tarcísio costumam se esfarelar sem a cumplicidade da imprensa tradicional.
E pensar que a família do ex-presidente julgava ser possível emparedar o Brasil através de uma chantagem idiota, segundo a qual só a aprovação da anistia seria capaz de reverter as tarifas impostas por Trump.
Em que mundo esse pessoal vive?
Outras demonstrações grosseiras, e até inacreditáveis, de burrice foram os ataques inaceitáveis ao Supremo Tribunal Federal por parte de Trump, em jogo combinado com o clã Bolsonaro.
Ao atentar contra a soberania e a independência da justiça brasileira, falando em "caças às bruxas" e que o "processo deve parar imediatamente", Trump desconsiderou que caberá justamente a essa Corte o julgamento de Bolsonaro e seus asseclas.
As primeiras pesquisas divulgadas depois do episódio do tarifaço revelam que o Brasil se inclina a marchar com Lula.
Modestamente, como brasileiro, só me resta agradecer aos asnos da extrema-direita pelo presente.