Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Polícia Federal (PF) cumpre na manhã desta sexta-feira (18) mandados de busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o diretório do Partido Liberal (PL), em Brasília. A operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também estabeleceu uma série de medidas cautelares que restringem a liberdade do ex-chefe do Executivo.
Bolsonaro foi levado à sede da PF para instalação de uma tornozeleira eletrônica e, a partir de agora, será monitorado 24 horas por dia. Ele também está proibido de acessar redes sociais, de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, de manter contato com outros réus da trama golpista e de se aproximar de embaixadas. Além disso, deverá cumprir recolhimento domiciliar entre 19h e 7h, inclusive nos fins de semana.
Decisão se baseia em risco de fuga e obstrução de Justiça
A decisão do STF teve como base um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) e uma representação da própria PF. Segundo as autoridades, Bolsonaro vem adotando condutas que configuram os crimes de coação no curso do processo, obstrução da Justiça e ataque à soberania nacional. Havia, inclusive, indícios de que o ex-presidente estaria se articulando para fugir do Brasil, possivelmente pedindo asilo político ao presidente norte-americano Donald Trump.
A defesa de Bolsonaro afirmou que está surpresa e vai se manifestar em breve.
Pressão dos EUA e ação coordenada por Eduardo Bolsonaro
As medidas do STF também surgem em meio a uma escalada de tensões diplomáticas. Na quinta-feira (17), Donald Trump divulgou carta endereçada diretamente a Bolsonaro, na qual afirma que o processo contra o ex-presidente brasileiro deveria ser encerrado “imediatamente”.
“Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto”, escreveu Trump, em carta com timbre da Casa Branca publicada na Truth Social.
Além disso, o governo Trump ameaça impor sanções econômicas ao Brasil e até ao próprio ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. As ameaças vêm sendo encorajadas pelo filho de Bolsonaro e deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente vive nos EUA e, segundo o STF, atua para pressionar autoridades internacionais contra o Judiciário brasileiro.
Trama golpista e o cerco da Justiça
A ofensiva do STF aprofunda o cerco contra Bolsonaro, que é réu por tentativa de golpe de Estado. Em março, a Primeira Turma da Corte acolheu denúncia da PGR e tornou o ex-presidente e outros sete aliados réus por envolvimento na trama golpista de 2022.
Entre os acusados estão nomes do núcleo duro do governo, como Augusto Heleno, Anderson Torres, Mauro Cid, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira. Segundo a PGR, o grupo atuou para abolir violentamente o Estado Democrático de Direito, além de cometer crimes contra o patrimônio público.
“Não sou culpado de nada, não estou sendo acusado de corrupção. É injustiça comigo”, declarou Bolsonaro, na véspera da operação, durante coletiva no Senado.
Na ocasião, o ex-presidente alegou ainda que a Justiça tenta tirá-lo da disputa eleitoral de 2026, classificando o processo como um “teatro”. Agora, sob vigilância constante e com a liberdade restringida, Bolsonaro se vê mais distante das urnas e cercado por um Judiciário que já não tolera sua retórica de impunidade.