O presidente aproveitou o discurso para retomar a discussão sobre a regulação dessas plataformas, criticando o comportamento de grandes empresas estrangeiras de tecnologia que, segundo ele, operam no País sem respeitar as leis e contribuem para a degradação da vida pública.
“No Brasil, ninguém está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes, racismo, violência e ataques à democracia.”
Lula mencionou explicitamente a responsabilidade das Big Techs em relação à disseminação de ódio, fake news e até o descrédito às vacinas, um problema também abordado pelo Supremo Tribunal Federal recentemente.
Multilateralismo, legalidade e defesa comercial
Diante da escalada da retaliação tarifária por parte dos EUA, o governo anunciou que poderá acionar todos os instrumentos legais possíveis, incluindo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a chamada Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional. Lula também defendeu o papel do Brasil como ator pacífico e estratégico no comércio internacional:
“Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações.”
Lula destacou que desde o início de seu governo o Brasil saiu do isolamento diplomático e já abriu 379 novos mercados para seus produtos. Ao mesmo tempo, reafirmou o compromisso ambiental, lembrando que o país reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia e defendeu o PIX como patrimônio nacional, em resposta velada a ataques recentes contra o sistema brasileiro de pagamentos.
Tom de confronto e a construção de uma trincheira nacional
O pronunciamento de Lula marca uma nova fase de enfrentamento entre o Brasil e os Estados Unidos sob Trump. Diferentemente de episódios anteriores, como as divergências ambientais ou comerciais do passado, o que se avizinha agora é um conflito de soberanias — com implicações políticas, jurídicas e informacionais.
Ao qualificar como “chantagem” e “traição” os gestos da Casa Branca e seus aliados no Brasil, Lula busca construir uma trincheira de unidade nacional em torno da defesa do interesse público, agregando apoio da sociedade civil, empresários, trabalhadores e instituições democráticas. A retórica presidencial dialoga com a base popular, mas também com setores econômicos sensíveis ao impacto do tarifaço, como o agronegócio, a indústria e exportadores.
A expectativa agora recai sobre os próximos passos diplomáticos e sobre a possibilidade de o Congresso Nacional voltar a discutir a regulação das plataformas digitais e a soberania econômica, num cenário global cada vez mais tensionado pela ascensão da extrema direita e pela politização das relações comerciais.
O tarifaço de Trump acirra o embate entre dois modelos de mundo: um ancorado na soberania nacional e na cooperação multilateral, outro baseado em chantagens unilaterais e alianças entre bilionários da tecnologia e forças antidemocráticas. Com seu discurso, Lula sinalizou que não está disposto a recuar — e que a resposta do Brasil virá com firmeza, unidade e cabeça erguida.