Foto: Ricardo Stuckert
Em política, como na vida, às vezes é preciso ousar e tomar decisões que, em princípio, contrariam o caminho mais fácil e seguro. Merece aplausos a decisão do deputado federal Guilherme Boulos de não concorrer a nenhum cargo eletivo para aceitar o convite de Lula e assumir a secretaria geral da Presidência da República.
Boulos trocou uma reeleição garantida - como uns dos campeões de voto, já que em 2022 obteve mais de um 1 milhão de votos - por um ministério no governo Lula, onde será o responsável pela interlocução com os movimentos sociais, função que cai como uma luva para ele devido à sua militância destacada nessa área.
Não havia sentido em Lula tirar da secretaria geral um quadro de sua confiança e do PT, como Márcio Macedo, para que um substituto permanecesse no cargo até abril de 2026, quando teria que se desincompatibilizar se quisesse concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados.
Sabemos que os acordos políticos com frequência têm a parte que pode se tornar pública e outra que é recomendável ficar entre os que participaram do acerto. Mas, tudo leva a crer que, a depender é claro de seu desempenho como ministro, Boulos negociou com o presidente sua permanência no primeiro escalão no Lula 4.
A oficialização do convite a Boulos vem na esteira da convicção de Lula de que é necessário preparar a máquina do governo para a dura disputa eleitoral de 2026. Embora Lula venha recuperando popularidade de forma consistente, não podemos perder de vista que o Brasil tem uma extrema direita forte, a Faria Lima, o agro, as igrejas neopentecostais, os militares, os grupos de mídia, as policias e as milícias.
Não por acaso em todas as cinco eleições vencidas pelo PT e aliados o pleito foi para o segundo turno.
A nomeação relativamente recente de Gleisi Hoffmann para o Ministério das Relações Institucionais e a tesourada nos cargos de indicados pelo Centrão para o governo obedecem à mesma lógica de priorizar a preparação para a eleição.
É evidente que as exonerações também são impulsionadas pelas votações dos parlamentares do Centrão contra o governo, no Congresso Nacional, em matérias importantes para o Planalto.
Mesmo em franca minoria entre deputados e senadores, o objetivo do governo é refletir na composição do governo a base real de que dispõe no Congresso. Não dava mais para assistir passivamente ao melhor dos mundos desfrutado pelos paridos conservadores, que ajudavam a derrotar os projetos do governo, mas mantinham afilhados políticos em várias áreas da administração federal.
O Centrão acaba sendo colocado em uma "sinuca de bico", pois a ocupação de cargos e o consequente uso político da estrutura dos ministérios sempre foram o oxigênio dessa turma. Tanto que dois de seus ministros decidiram ficar no governo mesmo diante da expulsão iminente de seus partidos.
Moral da história: o governo vive um bom momento e está sabendo aproveitá-lo.