O Brasil precisa aprofundar a redução da ainda vergonhosa desigualdade social, embora os governos Lula e Dilma tenham retirado tantos milhões de brasileiros e brasileiras da miséria e da pobreza. Mas a prioridade da mídia venal é o que diz Cerveró. O Brasil tem que resolver seus gargalos de infraestrutura, com pesados investimentos em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. Mas o mundo político volta suas atenções para os alcaguetes Youssef e Paulo Roberto Costa.
Passou da hora de o país eleger como prioridade a universalização da qualidade no atendimento de saúde. Mas as revistas e jornalões do PIG só abrem espaços para vazamentos seletivos, à margem da lei, e muitas vezes falsos, de depoimentos de delatores. Ainda há muito o que fazer na área da educação, mas as estrelas do noticiário são os dedos acusadores de dezenas de executivos e empreiteiros convertidos em colaboradores da justiça. Milhões de pessoas país afora não dispõem de saneamento básico. Mas o disse-me-disse calhorda extraído da Lava Jato é o que alimenta as conversas sobre política.
Urge retomar o crescimento, gerar empregos, salvar as empresas e a engenharia nacional. Mas isso não têm nenhuma importância para os barões da mídia. A orientação para seus editores e colunistas amestrados é clara : esconder todos os indícios de malfeitos que envolvam FHC, Aécio e PSDB e transformar frases descontextualizadas e os famosos "teria dito", "teria ouvido", "teria feito" em condenações prévias, caso se refiram a Lula, Dilma, PT e governo.
A cobertura da Lava Jato feita por Globo, Veja, Folha e Estadão passou de todos os limites, e se supera dia após dia, em termos de manipulação da informação com fins políticos. Vai da ilação oportunista a mentira escrachada e do jogo sujo da publicação de vazamentos ilegais (em sociedade com a PF, o MP e o Judiciário) a atentados contra a privacidade e o direito de presos. É de dar vontade de vomitar.
Contudo, como de onde menos se espera é que não vem nada mesmo, essa linha de atuação da imprensa não surpreende. Desde sempre foi assim. É impressionante como a história se repete. Basta que o governo tenha compromisso popular para que não lhe seja dado um minuto de trégua. A ficha corrida da mídia é encorpada no tocante ao combate à boas causas povo brasileiro . E repleta também de atentados à democracia.
Além da campanha insidiosa contra Vargas, Jango, Brizola Lula e Dilma, ela esteve na trincheira de oposição à criação da Petrobras, apoiou a cassação do Partido Comunista Brasileiro, a tentativa de golpe em 1954 e a ditadura militar que tanto infelicitou o país através de perseguições, cassações, banimentos, prisões, torturas e assassinatos de opositores do regime.
Mas devo confessar meu espanto ao notar que mesmo no universo dos não envenenados pelo bombardeio midiático, incluindo até gente de esquerda, encontram-se pessoas que dão crédito, ou pelo menos levam em conta em maior ou menor grau, as deduragens dos alcaguetes, quase sempre movidas pelo desespero típico de quem quer se livrar das condenações da justiça. Zero em termos de credibilidade. Ainda assim, nas redes sociais, é comum a exploração por parte da militância progressista de depoimentos de delatores envolvendo FHC, Aécio, etc.
Longe de querer dar lição de moral em quem quer que seja, mas por uma questão de convicção, sinto um profundo desprezo por tudo que emana de delatores. Nisso estou de pleno acordo com a presidenta Dilma, para quem "delator não merece respeito." Ainda mais num processo deformado como o Lava Jato, no qual só existem acusadores. Já são mais de 50 os delatores.
Nas democracias avançadas, o instituto da delação premiada, além de ter caráter absolutamente sigiloso, é apenas o ponto de partida do processo investigatório. Tudo depois deve ser checado e investigado a exaustão. No Brasil, palavra de delator tem fé pública.
Na República de Curitiba, o cerceamento do amplo direito de defesa chegou ao ponto de os advogados sequer tomarem conhecimento dos conteúdos das delações vazadas para a imprensa. Quem ainda tiver alguma dúvida é só acessar um vídeo que circula na internet no qual advogados de réus enfrentam cara a cara as arbitrariedades do juiz Moro.