A decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de suspender o depoimento que o ex-presidente Lula e dona Marisa Letícia prestariam nesta quarta-feira (17), no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, é um balde de água gelada nos amplos setores do MP metidos até o pescoço na campanha pela criminalização do PT, de Lula e do governo.
A decisão do conselheiro Valter Araújo, que acatou representação do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e suspendeu o depoimento, embora esteja longe de mudar esse panorama sombrio no MP, representa ao menos um sopro de republicanismo e de repeito ao estado de direito numa instituição cujo nível de politização já ameaça a democracia.
Vale lembrar que o promotor Cássio Conserino, que propôs a ação criminal contra Lula, pertence ao MP de São Paulo, conhecido por sua relações promíscuas com os interesses políticos dos tucanos paulistas. Quem duvidar é só procurar saber que fim levou o escândalo do "trensalão" tucano, ou o buraco do do Metrô do Serra. Com certeza, o desvio de dinheiro da merenda das crianças também terá o engavetamento como destino.
A argumentação apresentada pelo deputado petista, e acatado liminarmente pelo CNMP, cortou em boa hora as asas de um promotor especializado em sensacionalismo midiático. Conserino, no afã de entregar a mercadoria que prometeu para a revista Veja (incriminar Lula por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio), meteu os pés pelas mãos, forçando a barra para ficar à frente do caso, mesmo não sendo o promotor natural. E, mais grave, aproveitou o palanque midiático para pré-julgar Lula, condenando-o mesmo antes de ouvi-lo.
Com um passado repleto de trapalhadas jurídicas, a ponto de ser repreendido por um juiz quando conseguiu a prisão de pessoas sem quaisquer provas e a justiça teve que soltá-las em seguida, Conserino, com a provável confirmação de sua exclusão das investigações, deve recolher do episódio a lição de que a associação golpista entre o MP e a mídia pode muito. Mas não pode tudo.