Há poucos meses, muitos vaticinavam uma performance desastrosa do PT nas eleições municipais de outubro. A tragédia eleitoral anunciada atingiria também o principal aliado dos petistas na esquerda, o PCdoB.
As projeções, objetivamente, levavam em conta os efeitos do massacre midiático sofrido pelo PT (dia sim outro também associado a casos de corrupção) e as ações da força-tarefa golpista de Curitiba comandada por Moro.
Noves fora a campanha de criminalização do partido, não é possível tapar o sol com a peneira : os erros cometidos por Dilma e pelo PT concorreram para a conformação desse quadro de extrema gravidade.
O rombo na imagem do partido podia ser sentido nas ruas e nos botecos. Entre os bem-nascidos das classes média e alta, o ódio visceral ao petismo passou a se expressar publicamente através de preconceitos contra negros e pobres, defesa da volta da ditadura e de toda sorte de teses e propostas obscurantistas e anticivilizatórias.
Por questões até relacionadas à segurança pessoal, muitos petistas evitavam vestir a camisa do partido em algumas áreas. O estrago estava feito : anos a fio de acusações sem a resposta devida, de omissão no enfrentamento dos barões da mídia, de apego a um republicanismo imbecilizado e de uma obsessão cega por garantir governabilidade cobravam sua fatura.
Abro parênteses : nunca, nem mesmo depois de consumado o golpe, Dilma e seus ministros foram capazes de dizer para a sociedade, com todas letras e sem o artifício do sujeito oculto ou indeterminado, que, além da mídia venal, a articulação golpista inclui instituições do Estado, tais como Congresso Nacional, Judiciário ( inclusive o STF), TCU, Polícia Federal e Ministério Público. Fecho parênteses.
Contudo, política é fascinante porque não é linear. Muda como nuvem no céu. E não é que, na luta contra o golpe, e agora na resistência a ele, o PT incia um processo de reconciliação com as ruas, de onde, aliás, nunca deveria ter saído ?
O que se vê nas manifestações pela democracia que acontecem todas os dias no país inteiro são jovens, trabalhadores, negros, mulheres, LGBTs, artistas, intelectuais e ativistas do movimentos sociais sinalizando fortemente uma forma mais arejada de se fazer política, mais horizontal e em rede e menos enquadrada nos moldes clássicos da esquerda, mais direcionado à manutenção e ampliação dos direitos civis e republicanos e menos engessada por táticas e estratégicas convencionais.
Não que os partidos sejam desprezados, como em junho de 2013. Na resistência democrática de 2016, estão presentes em quantidade considerável militantes do PT, PCdoB, PSOL, PDT e PCO. Mas que as praças estão impregnadas da forte sensação de que o novo , o futuro da esquerda está nascendo ali, isso é inegável.
Vale notar, porém, que o sentimento de que o PT foi defenestrado do poder, não pelos seus erros, mas por suas políticas de inclusão social e melhoria substancial das condições vida do povo, se alastra entre os manifestantes.
As trevas propostas pelo governo Temer levam as pessoas a uma inevitável comparação entre os que foram vítimas de um golpe de estado devido aos seus compromissos populares e a quadrilha que assaltou o governo sem um voto sequer para acabar com os direitos do povo.
Por tudo isso, os que previam o aniquilamento do PT e da esquerda nas eleições municipais de outubro próximo podem ter uma surpresa desagradável. Para desespero de golpistas e conservadores de todos os matizes, e também dos que abandonaram o barco na hora da tormenta, o PT voltou a ser viável eleitoralmente.