O Parque de Exposições da Lapa (PR) recebe, a partir desta quarta-feira (20), a 16ª edição da Jornada de Agroecologia. Serão quatro dias de diversas atividades voltadas ao incentivo à agrobiodiversidade e ao plantio sem veneno.
O evento recebe mais de três mil pessoas, entre camponeses, agricultores e apoiadores da reforma agrária. Além das delegações do Paraná, participantes vieram de outros quatro estados brasileiros e de 10 países, em especial da América Latina. Mais de 60 expositores, dos mais diversos tipos de produção, compõe a feira permanente para comercialização de produtos agroecológicos.
A ação ocorre no Parque de Exposições e Eventos da Lapa, BR 476 (Rodovia do Xisto) Km 66, e é aberta à população.
Do campo para a cidade
Essas produções sem agrotóxicos, fruto do modelo de cultivo familiar, podem ser encontradas em todo estado do Paraná. Exemplo disso é a Cooperativa Central de Reforma Agrária, que centraliza 17 cooperativas que plantam e colhem produtos orgânicos, e distribui semanalmente esses alimentos em pontos estratégicos de Curitiba.
A lista de compras é divulgada via whatsapp a mais de 350 clientes. No início de outubro, será lançado um site na internet com o objetivo de dinamizar a distribuição (www.produtosdaterrapr.com.br)
A entidade reúne a produção de 311 assentamentos em que moram 20 mil famílias beneficiadas por programas de reforma agrária. As encomendas são entregues nos bairros Xaxim, Sítio Cercado, Alto Boqueirão, Vila Isabel e Mercês. “Um caminhão passa pelos assentamentos do estado recolhendo os produtos e os traz a Curitiba para distribuí-los aos consumidores”, explica um dos responsáveis pela Cooperativa Central, Ademir Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Mas o que é agroecologia?
A agricultora Eliane Aparecida Veiga Schons e sua família vieram de Lindoeste para viver no assentamento Contestado, no município da Lapa, no ano 2000. Seu lote nunca foi contaminado com uma gota de veneno. Para ela, porém, a agroecologia vai além do plantio orgânico. “É cuidar da terra, do meio ambiente, da água e da alimentação da família”, define.
O engenheiro florestal Felipe Pinho, professor da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) e doutor na área de solos pela Universidade de Viçosa, define a agroecologia como uma ciência prática em movimento. “É uma ciência porque se baseia em estudos, em como funcionam esses sistemas e como manejá-los; é prática porque está em constante diálogo com agricultores e camponeses em seu dia a dia no campo; e é movimento porque tem relação com lutas sociais para que haja uma transformação do modelo hegemônico da agricultura que domina o plantio e o cultivo no país”, descreve o professor.
O professor assinala que o modelo hegemônico não produz nem 15% do que chega à nossa mesa. “Ele está mais interessado em produzir commodities (ou seja, fazer do alimento uma mercadoria)”. Segundo ele, a Organização das Nações Unidas (ONU) já divulgou relatórios informando que a agroecologia é sim capaz de dar conta da fome no mundo. “Agora é preciso criar as condições na sociedade para fortalecer o plantio agroecológico”.