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Indígenas reagem a ação de evangélicos da igreja de Silas Malafaia em aldeia Pankará

Por Raíssa Ebrahim, no Marco Zero                                                                                                               

 Parte da comunidade indígena Pankará de Serrote dos Campos, zona rural de Itacuruba, foi surpreendida pela chegada de um ônibus da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec), do Pastor Silas Malafaia, com cerca de 50 fiéis que viajaram quase 500 quilômetros do Recife ao Sertão para evangelizar os indígenas e pregar a palavra de Deus. O fato lembra o ano de 1500, mas aconteceu no último sábado (25).

A chegada do grupo terminou gerando um conflito interno na aldeia e instaurou um clima de tensão. A atuação de grupos externos que fragiliza a unidade dos povos e cria rivalidades internas é um filme que se repete em diversas aldeias.

“Estão impondo uma religião absurda que vem para massacrar e acabar ainda mais com a nossa, que já está tão fragilizada há mais de 500 anos, e que os povos indígenas deste país vêm lutando para resgatar e fortalecer”, critica a cacica Lucélia Pankará.

“O pastor (de nome Alexandre e sobrenome desconhecido por Lucélia) conseguiu comprar apoio dos outros grupos com presentes. Eu me vi com meus ancestrais há mais de 500 anos sendo comprados com presentes. É por causa disso que perdemos muito dos nossos traços, da nossa religião e das nossas tradições. Porque, quando índios são evangelizados, eles perdem tudo isso porque a igreja não permite”, reforça.

Os Pankará lutam pela demarcação de terras há 15 anos. A manutenção da cultura indígena viva é justamente um forte fator para aquisição, demarcação e proteção de seu território. Parte da área está debaixo d’água, foi inundada para a construção da Barragem de Itaparica/Luiz Gonzaga, em Petrolândia, em 1988.

A esse processo que deixou marcas e expulsou pessoas de suas terras, soma-se agora a possibilidade de construção de uma usina nuclear, às margens do Rio São Francisco. O plano de erguer seis reatores, que também impacta a etnia Tuxá, veio novamente à tona em 2019 com um anúncio do Governo Bolsonaro.

Segundo ela, os fiéis também levaram doações de brinquedos, roupas e alimentos e ainda fizeram fotos e vídeos das pessoas, das casas e do território sem consentimento. “O mais chocante é como um pastor que diz ser evangelizador não tem discernimento para entender que não queremos ele nesse espaço e chega aqui com brinquedos, roupas, calçados e cestas básicas. Essa é uma imagem (de fome e necessidade) que não existe em Serrote dos Campos, é uma ficção”.

A reportagem apurou que saíram do Recife dois ônibus, um fretado pela Advec Caxangá e o outro por outra igreja pentecostal, que não conseguimos localizar até o fechamento desta matéria. A Assembleia de Deus Vitória em Cristo é comandada pelo milionário pastor Silas Malafaia, conhecido por sua atuação política e seus discursos de ódio, sobretudo contra LGBTs e direitos reprodutivos das mulheres.

A cacica Lucélia conta ainda que, quando se dirigiu a uma representante da igreja e perguntou pela autorização, ficou sabendo que ela havia sido dada por uma pessoa que não é do território e, por não ser liderança, não tem poder de autorizar nada. “Antes seria preciso uma consulta a nós”, detalha.

O grupo dela chegou a ligar para a polícia, mas os evangélicos decidiram ir embora. No entanto, à tarde, uma parte deles acabou voltando, dessa vez em dois carros, insistindo em entrar na aldeia, acompanhados pela cacica Cícera, irmã de Lucélia, mas que faz parte de um outro grupo. Foi quando os ânimos se acirraram.

Evangélicos voltaram à tarde de carro para tentar mais uma vez entrar na comunidade indígena

“Agora estão atacando a minha imagem nas redes sociais e tudo que fiz durante estes 15 anos de lutas”, contesta a cacica Lucélia, cujo objetivo é preservar a cultura e a religiosidade de seus ancestrais. Ela reforça que é preciso apoio, “senão eles vão nos matar porque não queremos a religião evangélica”.

A cacica faz parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, como uma forma de ter alguma segurança contra as ameaças que recebe desde 2011, quando começou a denunciar e lutar contra a instalação de um projeto nuclear no Sertão. Ela nunca aceitou sair das terras para viver em outro lugar. “Decidimos permanecer aqui porque, se é para morrer ou viver, será no nosso território”.

Marco Zero Conteúdo fez contato com setor o administrativo da Avec Caxangá na tarde desta quarta-feira (29) e está aguardando retorno dos pastores responsáveis. A reportagem segue aberta para ouvi-los. Também estamos tentando o contato com a cacica Cícera.

 
 

 

 

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