Esta semana, trabalhadores que fazem entregas por aplicativo, de comida e produtos diversos, modalidade de serviço que cresceu nesta época de quarentena, com milhares de pessoas ficando em casa para se proteger contra o novo coronavírus (Covid-19) fizeram pelo menos dois atos na capital paulista protestando contra a falta segurança e os baixos valores pagos pelas empresas.
“Eu me sinto um escravo. Sofri um acidente esses dias, meu dedo ficou com fratura exposta. Reportei o problema ao aplicativo, mas a empresa só queria saber se eu conseguiria concluir a entrega”, disse a um portal de notícias o entregador Robson Luís da Silva, 38, que faz entregas pelos aplicativos Rappi, iFood e Uber Eats.
Já o motoboy David Lima, reclama do valor que a categoria está recebendo para fazer as entregas num momento em que “os entregadores estão mantendo a cidade minimamente em pé”.
“Quem está botando a cara na rua e entregando comida, medicamento e todo tipo de produto somos nós. Mas a população precisa saber que ganhamos, em média, R$ 10 para percorrer 15 km”, diz Lima.
Depois de realizar uma carreata da Avenida Paulista até a sede do iFood, em Osasco, os manifestantes fizeram um ato, a maioria sem máscaras nem luvas, e fizeram discursos contra as empresas de entrega por aplicativo.
Gérson Silva, vice-presidente do Sindimoto-SP (entidade que representa a categoria), disse que não adianta nada “os entregadores serem chamados de heróis na imprensa se, quando chegam em casa, entregam migalhas para as suas famílias.”
“Tem motoboy coronado, e vocês acham que essa empresa aqui está dando alguma assistência”, afirmou o sindicalista se referindo aos trabalhadores que se contagiaram com a Covid-19.
Os trabalhadores também disseram que não querem, agora, discutir a legalidade do vínculo trabalhista com as empresas de aplicativo, uma questão que já está sob análise da Justiça. “Queremos máscara, luvas e álcool em gel para trabalhar com dignidade”, disse um motoboy na manifestação.
Outro lado
O Rappi informou, por meio de nota, que reconhece o direito à livre manifestação pacífica e busca “diálogo com seus entregadores parceiros”.
A empresa disse ainda que colocou em prática a entrega sem contato, adquiriu álcool em gel e máscaras, que estão sendo entregues aos motoboys; disponibilizou um botão específico na sua plataforma para que o entregador comunique eventuais sintomas da Covid-19 e criou um fundo para apoiar financeiramente por 15 dias quem for diagnosticado com a doença.
O aplicativo informou ainda que pratica os mesmos critérios no valor do frete -que varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona de entrega, distância percorrida e complexidade do pedido -, e só bloqueia seus entregadores parceiros em caso de descumprimento dos termos da plataforma.
Uber Eats e iFood também foram procurados pela reportagem, mas ainda não se posicionaram.
ACORDO
Reportagem da Folha, publicada em março, mostrou que as condições de trabalho dos entregadores pioraram durante a pandemia pelo risco sanitário e pelo tempo que eles gastam em supermercados para abastecer a população que está em casa.
Em meio à pandemia, Ministério Público do Trabalho emitiu nota técnica com uma série de medidas a serem tomadas pelas empresas de transporte de mercadorias e de passageiros por plataformas digitais.
O documento exige que essas companhias forneçam, gratuitamente, para o entregador álcool em gel (70% ou mais), lavatórios com sabão e papel toalha, espaço e serviço de higienização para os veículos e água potável para o consumo desses profissionais.
No início de abril, os aplicativos informaram que iriam disponibilizar kits com material de proteção e material informativo, além de um fundo financeiro para entregadores que contraírem a doença.