Dois trabalhadores de frigoríficos da cidade de Rolândia da unidade da JBS, no Paraná, morreram em consequência da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, entre a sexta-feira (7) e esta segunda-feira (10). Eles se somam a outros quatro trabalhadores de frigoríficos e dois familiares que tiveram contato direito com os contaminados. Com isso, subiu para oito o número de vítimas fatais de Covid-19 que de alguma forma têm relação com a atividade nos frigoríficos do estado.
Até esta terça-feira (11) a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) havia registrado o contágio de 4.717 trabalhadores e trabalhadoras e 27 indígenas que também trabalham nos frigoríficos do Paraná. Desde o início da pandemia em todo o estado morreram 2.417 pessoas e 94.882 foram contaminas pela Covid-19.
O medo e a tensão dos trabalhadores aumentou depois que os empresários conseguiram pressionar o governo do estado para derrubar a Resolução n° 855, de 1º de julho, que exigia o distanciamento mínimo de 1,5 metro. A Resolução foi derrubada duas semanas depois e os frigoríficos passaram a aplicar a Portaria nº 19 de junho deste ano, do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que exige apenas um metro de distância nas fábricas durante o período da pandemia.
Os empresários argumentam que o distanciamento de 1,5 metro representaria uma queda de cerca de 18% na produção de carnes suína e de aves, em que o Paraná é o maior produtor do país. A indústria da carne defende a adoção do protocolo federal editado pelos ministérios da Economia, Agricultura e Saúde, que prevê a possibilidade de distanciamento inferior a um metro nos casos em que houver uso de máscaras ou equipamentos de proteção individual. Normalmente a distância entre trabalhadores nas unidades de produção é de 0,85 centímetros.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria Alimentícia do Paraná (FTIAPR), filiada a CUT, Ernane Garcia, diz que o grande número de trabalhadores contaminados pela Covid-19, que deu um salto nos últimos 20 dias, é preocupante e pode piorar porque a atividade nos frigoríficos é um dos vetores de contaminação por causa dos ambientes fechados, úmidos, de pouca ventilação e aglomeração.
“Eu acredito que este número ainda pode ser maior porque as pessoas têm medo de falar que estão doentes e serem demitidas. Também as empresas dificultam o nosso acesso aos dados dos testes que vêm sendo aplicados em alguns frigoríficos alegando sigilo. Os dados que temos vêm do Ministério Público do Trabalho (MPT) que tem atuado na área”, conta Garcia.
O salto no número do contágio foi registrado nos últimos dias, após um fábrica da BRF ter registrado na cidade de Toledo 1.138 casos confirmados e outros cinco em Carambeí, um aumento de 29% dos casos da doença nos frigoríficos do Paraná.
“A BRF começou a testagem em seus quase seis mil trabalhadores de Toledo, após acordo com o MPT e divulgou recentemente os dados. Só que a maioria das empresas, muitas delas cooperativas, não fazem os testes. Ficam jogando a responsabilidade para as prefeituras, governo do estado e o governo federal e quando o trabalhador adoece manda para uma unidade de saúde pública. Por isso que a gente não sabe de fato quantos dos 120 mil trabalhadores dos frigoríficos daqui estão contaminados”, alerta Garcia.
A preocupação entre os trabalhadores aumenta com o relaxamento nas regras da quarentena nos municípios. De acordo com o presidente da FTIAPR, os frigoríficos costumam contratar trabalhadores em até 40 cidades próximas das unidades onde estão instalados.
“É muita gente circulando entre uma e outra cidade. A gente percebe até pelos casos em Londrina, que fica perto da unidade da JBS em Rolândia, onde houve essas duas últimas mortes”, diz o dirigente. Londrina, que fica apenas 24 quilômetros de Rolândia, registrou até esta quarta-feira (12) 3.860 casos e 137 mortes.
Crise econômica prejudica denúncias
Para Ernane Garcia, os trabalhadores dos frigoríficos têm medo de denunciarem as condições de trabalho e os contágios pelo novo coronavírus por causa do alto índice de desemprego que já atinge 12,8 milhões de trabalhadores no país. Além disso, há muita desinformação.