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Número de centros islâmicos sobe 20% em São Paulo

Por Camila Costa, na BBC Brasil               

 

 

O número de mesquitas e musalas (salas de oração islâmicas) no Estado de São Paulo cresceu cerca de 20% em 2015, impulsionado pela chegada de refugiados e pela conversão de brasileiros, segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras).

Dos atuais 30 centros islâmicos do Estado – que abriga a maior comunidade muçulmana do país –, cinco foram abertos de janeiro a setembro de 2015. No ano passado, apenas um foi criado.

O crescimento em São Paulo ilustra o aumento do número de praticantes do islã em todo o Brasil, que ainda não foi quantificado. Atualmente, há 102 centros de oração islâmicos em todo o país.

"Não há levantamento científico (sobre o número de muçulmanos no país), mas começaremos a desenvolver isso porque ficou bastante evidente que há um aumento baseado nesse fluxo de imigrantes vindos de diversas regiões do Oriente Médio e de países africanos", disse Ali Hussein El Zoghbi, vice-presidente da Fambras, às BBC Brasil.

O Censo 2010 do IBGE fala em cerca de 30 mil praticantes da religião no país, mas a Federação estima que o número tenha saltado de 600 mil em 2010 para entre 800 mil e 1,2 milhão de fiéis em 2015.

Entre eles estão imigrantes de países como Gana, Nigéria, Tanzânia, Bangladesh, Marrocos e Síria, este último palco, desde 2011, de uma sangrenta guerra civil.

Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça, 2.077 sírios receberam status de refugiados do governo brasileiro de 2011 até agosto deste ano.

Conversão

Os novos centros religiosos atendem a comunidades no Tatuapé e em Aricanduva (zona Leste de São Paulo), na rua Guaianazes (centro), em Veleiros (zona Sul) e em Embu das Artes (Grande São Paulo).

Segundo El Zoghbi, a abertura deles está ligada principalmente à conversão de brasileiros ao islã nas regiões periféricas da Grande São Paulo, e à necessidade de ter salas de oração mais próximas de seus bairros.

O sheik Rodrigo Rodrigues, que conduz as orações na mesquita do Pari, no centro da capital paulista, diz que as conversões de brasileiros têm se tornado mais frequentes. "Acho que todo sábado duas ou três pessoas se convertem aqui. Nós não registramos, porque acreditamos que a conversão é pessoal e espontânea", disse à BBC Brasil.

A reportagem ouviu alguns brasileiros que se converteram; estes se aproximaram da religião motivados por curiosidade ou por romances com muçulmanos.

As conversões são espontâneas, segundo o presidente da Fambras, e por isso, pouco registradas. "No Brasil, o islã não faz proselitismo da maneira como se percebe em outras religiões. Essencialmente, o islã coíbe a ideia de que você possa coagir alguém a entrar na sua religião", diz.

Mas para a antropóloga da USP Ribeirão Preto Francirosy Ferreira, que estuda o islã no Brasil há 17 anos, as conversões de brasileiros foram impulsionadas pelo aumento recente da divulgação da religião no país.

"A comunidade muçulmana vem fazendo um trabalho de divulgação da religião em várias cidades e Estados do país. Isso aproxima os muçulmanos da comunidade em geral. Existe também uma influência recente das campanhas de divulgação da religião nas ruas feitas nos EUA, que chegaram muito forte no Brasil na época da Copa do Mundo, pela vinda de jogadores muçulmanos", afirma.

"Também há mais sheiks que falam português e investiram no contato com a população. Especialmente porque os muçulmanos são muito atacados. Então eles tem que ocupar o espaço público para se defender dos mal-entendidos sobre a religião."

Segundo Ferreira, isso tem aproximado mais os muçulmanos das comunidades onde eles vivem e deixado a porta aberta para que brasileiros tirem dúvidas sobre a imagem da religião construída pelos meios de comunicação. Esse processo acabaria atraindo novas pessoas para a prática.

"As comunidades vêm crescendo avassaladoramente na Paraíba, na Bahia, em Belém (PA). Na comunidade de Barretos (SP), a cada semana há uma conversão", diz.

Repúdio ao 'Estado Islâmico'

O vice-presidente da Fambras afirma que as notícias frequentes sobre a ação do grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI) no Iraque e na Síria fazem com que muitos brasileiros associem o islã com radicalismo.

Mas ele diz que, tanto entre os convertidos quanto entre os estrangeiros, é mais comum observar repúdio ao "EI" do que "qualquer tipo de defesa".

Mesmo assim, segundo ele, as organizações muçulmanas no país ficam atentas à orientação dos novos fiéis, em particular os imigrantes.

"Temos buscado dialogar com essas comunidades, principalmente para levar o conhecimento adequado da religião e proporcionar solidariedade a esses grupos que, em geral, passam por algumas dificuldades. Levamos livros, damos cursos para que o islã essencial possa ser a base de fundação dessas pessoas."

"Toda religião tem vertentes diferentes, mas o Brasil tem uma característica. São mais de cem entidades muçulmanas em todo o país, mas o centro do processo é a tolerância, o respeito às diferenças, a não promoção da violência de forma alguma, a ideia de apoiar políticas públicas que fazem com que o ser humano seja respeitado em suas necessidades."

Ele diz ainda que os imigrantes de países do Oriente Médio e do continente africano costumam ficar longe de quaisquer implicações políticas do islã.

"Essas pessoas vêm de uma maneira desesperada (fugindo da pobreza ou de guerras) e o foco é sobreviver. Elas não vêm com uma formação do islã político, nada disso. Vêm com o objetivo de ter uma vida digna e um local para praticar sua religião."

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