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Seca, chuvas e falta de políticas do governo colocam em risco a agricultura familiar

Por Rosely Rocha - CUT Nacional                                                                                             

Enquanto o Sul do país vive um longo período de seca e parte do Nordeste sofreu com as maiores enchentes dos últimos anos, causando enormes prejuízos na produção de alimentos nas duas regiões, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) corta crédito e abandona os pequenos agricultores.

Para cobrar medidas urgentes de Bolsonaro e da ministra da Agricultura, Teresa Cristina (DEM-MS), que chegou a dizer que a solução é rezar para São Pedro enviar chuva ao Sul,  os produtores de agricultura familiar de quatro estados - Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul - farão protestos nas principais rodovias federais que cortam suas regiões, na próxima quarta-feira (16), das 9h até às 16h. A ideia é parar as rodovias (BRs) 116, 163, 282 e 470.

Reação dos agricultores do Sul do país

A seca, que já dura três anos, quebrou a produção agrícola nos estados do Sul e o governo federal nada fez para ajudar os agricultores, que organizam uma mobilização para pressionar Bolsonaro e Teresa Cristina.  

“Nossa expectativa é que milhares se somem à nossa mobilização. Os sindicatos e até prefeituras estão engajados, fazendo reuniões e assembleias virtuais e presenciais. Os municípios devem ajudar com transporte para os atos, até por que quando o agricultor não produz impacta na cidade. Tanto que nosso lema é: “Agricultura Familiar quem não vive dela, depende dela pra viver”, diz Jandir José Selzler, Coordenador estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado (Fetraf- SC) e um dos organizadores dos atos. 

O dirigente conta que o governo federal cortou o crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e os prejuízos, embora ainda não contabilizados formalmente, somam bilhões. Veja abaixo a situação dos municípios da Região Sul.

“O governo suspendeu em novembro do ano passado os pedidos de financiamento e a contratação de operações de crédito pelo Pronaf, para o ano agrícola 2021/2022”, critica Jandir, que explica: “O ano agrícola começa em 1º de julho de um ano e termina em 30 de junho do ano seguinte”.

O dirigente criticou duramente a ministra da Agricultura que foi a região e nada fez, exceto pedir reza ao invés de falar de políticas públicas. “Em nenhum momento, ela falou de alguma proposta concreta para nos ajudar. A ministra nem queria receber a nossa carta de reivindicações e a muito custo conseguimos entregar a ela, no dia 12 de janeiro. Ela disse que responderia em 15 dias, mas já faz um mês e não respondeu às nossas reivindicações”, diz Jandir.

Na carta entregue à ministra Teresa Cristina,  além de reivindicações os produtores relatam a grave situação por que passam e falam sobre os prejuízos totais de 2021, ano em que um contingente ainda maior de municípios e agricultores foram atingidos pela seca do que em 2020.

De acordo com informações dos órgãos públicos responsáveis, as perdas de safra variam de 50% a 90% da produção das principais culturas como: soja, milho feijão e queda expressiva na produção de leite devido à falta de alimentos dos animais.

Somente no Sul, a safra de grãos estimada em 90,2 milhões de toneladas em dezembro, deverá ficar em apenas 68,1 milhões neste ano, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Outro fator preocupante, segundo os agricultores, é a queda também na produção diversificada de alimentos para o auto sustento das famílias, como verduras, frutas, batata doce, mandioca, arroz, plantas medicinais, entre outros. Além disso, muitas sementes e mudas das mais diferentes variedades, estão sendo perdidas, aumentando a fome no campo.

Municípios afetados na região Sul

Rio Grande do Sul

O estado do Rio Grande do Sul é o mais atingido pela seca.  Dos 497 municípios, 401 decretaram situação de emergência por conta da estiagem que assola as lavouras e esvazia reservatórios no estado. Destes, 288 já tiveram a situação reconhecida pela União.

Pelas informações da Emater, mais de 253 mil propriedades de 9.600 localidades sofrem com os efeitos da estiagem, situação essa que deixa 22 mil famílias sem acesso à água.

Em todo o estado, 92.800 produtores de milho e 82.400 produtores de soja registram perdas e a produção leiteira também com 27.289 propriedades gaúchas atingidas.

Mais de 70% da produção de milho foi perdida, a quebra na safra de soja alcança os 50% e os prejuízos previstos já ultrapassaram os R$ 36 bilhões.

Paraná

Já no Paraná, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), as perdas nas lavouras de soja são em torno de 73%, milho 65% e feijão 60%, sem considerar as perdas das demais culturas destinadas ao abastecimento interno.

Uma quebra estimada, segundo o secretário da Agricultura do estado, de 9 milhões de toneladas de grãos e um prejuízo de 30 bilhões de reais.

Em 21 de janeiro deste ano, o governo do estado decretou situação de emergência em virtude da seca em 69 municípios dos 399 que compõe o Paraná. Outros 48 municípios também estão em processo para a decretação de situação de emergência.

Santa Catarina

No estado de Santa Catarina, dos 160 municípios, mais da metade (87) já decretaram situação de emergência e, de acordo com as informações da Epagri, a principal preocupação do setor produtivo é a queda na safra de milho – tanto milho em grãos quanto silagem, o que deve impactar diretamente as cadeias produtivas de carnes e leite. As perdas estimadas já superam 50% das principais lavouras, culturas destinadas ao abastecimento e criações.

“Só no estado a quebra na produção de milho para grãos e para silagem e cultura de soja, os prejuízos passam de R$ 5 bilhões. Outra atividade, não contabilizada, segundo Jandir, é o leite. Santa Catarina é o 3º maior produtor no país.

“Com o grão de silagem de péssima qualidade, sem pasto por falta de chuva, a produção de leite cai tanto na qualidade quanto no volume. É um prejuízo muito significativo”, diz

Para Jandir, é uma contradição, a produção estar caindo, mas o preço do leite também, pelo aumento de custos dos agricultores e pela queda violenta na renda das famílias que não estão comprando nos supermercados até produtos de primeira necessidade. “É uma combinação desastrosa”, diz.

Ainda segundo o coordenador-geral da Fetraf-SC, na região serrana está comprometida a produção de maçãs, pêssego, ameixa, laranja e até mesmo o abacate está pequeno, apesar de ser uma fruta que cresce mais facilmente.

“No estado são 148 mil famílias que vivem da agricultura em Santa Catarina e grande parte não consegue produzir hortaliças, frutas, por falta d’água, nem mesmo para sua subsistência, alerta Jandir.

É preciso medidas de políticas públicas para amparar as famílias que estão abandonando a atividade agrícola, por não conseguirem produzir- Jandir José Selzler

Clique aqui para acessar o panfleto com as reivindicações dos pequenos agricultores.

No Nordeste, excesso de chuva quebra produção

As chuvas que atingiram dezenas de municípios na Região Nordeste, deixaram enormes prejuízos na agricultura e nas cidades. O excesso de chuva quebrou lavouras inteiras deixando os pequenos produtores à mingua.

Em Petrolina, Pernambuco, por exemplo, o excesso de chuva entre o final de 2021 e início de 2022 no Vale do São Francisco, comprometeu em 80% da safra de manga e uva no primeiro semestre, com prejuízos estimados em R$ 60 milhões.

Sem paralelo nos últimos 15 anos, a perda de safra atinge cerca de 2.000 fruticultores, a maior parte pequenos e médios produtores, segundo informou ao jornal Folha de São Paulo, o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina. 

De acordo com a entidade, a produção de frutas na região gera 100 mil empregos diretos e movimenta cerca de 2,21 bilhões de dólares nos mercados internos e externos.

Distante de Petrolina e a 450 quilômetros de Salvador, o pequeno agricultor Fernando de Jesus Santos, presidente do Sindicato dos Agricultores do município de Dario Meira, na Bahia, amarga a perda total da sua lavoura pelo excesso de chuva durante três dias e, para piorar, no dia 26 de janeiro a barragem do Rio do Bezerro se rompeu, inundando toda a cidade.

Produtor de hortaliça, mandioca, banana terra, cacau, leite e tilápia em cativeiro, Fernando agora sobrevive com queijo e iogurte que consegue produzir com suas 11 cabeças de gado e ainda aguarda a colheita de cacau, plantação que por estar numa parte mais alta da cidade não foi tão afetada pela inundação. Outra fonte de renda é o Bolsa Família que sua mulher recebe pelas três filhas do casal.

A preocupação maior de Fernando, no entanto é conseguir entregar as hortaliças que a Associação dos Moradores e pequenos produtores rurais da região do Lagoão (BA), faz às escolas municipais, por um contrato com a prefeitura de Dario Meira. O programa, criado no governo do ex-presidente Lula (PT), define que que 30% da merenda escolar deve vir da agricultura familiar.

O produtor diz que está buscando nas cidades vizinhas quem possa fazer a entrega para que eles não percam o contrato.

“Vendemos cerca de cinco mil maços de cebolinha, coentro e couve nas escolas e na cidade, por R$ 3 reais cada. Nosso prejuízo chega a R$ 45 mil entre os 54 associados e 17 produtores. Isso parece pouco, mas para nós é muito”, diz Fernando.

Crédito difícil

O produtor se queixa da dificuldade em conseguir crédito junto ao Banco do Nordeste. Segundo ele, a instituição além de demorar cerca de um mês para analisar o pedido, não oferece o aporte necessário para combater o prejuízo.

“Eu preciso de pelo menos R$ 10 mil para recomeçar, mas o banco só chega a R$ 6 mil. Com este valor, nem adianta pegar emprestado porque vai demorar uns três meses para voltar a vender alguma coisa”, diz.

Fernando explica que o dinheiro seria investido no pagamento de um tratorista, que recebe por hora, o saco de 50 quilos de ureia que está custando mais de R$ 300 e o frete.

Além da falta de produção, outro problema será a dificuldade no escoamento, já que as estradas da cidade ficaram destruídas.

“A gente conversou com um vereador da região, mas na cidade tá pior e as máquinas estão limpando a sujeira causada pela chuva e o estouro da barragem. Estamos de mãos atadas”, lamenta Fernando.

A evolução do Pronaf

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), órgão da ONU, em 2006, no governo Lula, foram 2,5 milhões de contratos do Pronaf, movimentando mais de R$ 6,3 bilhões. Na safra 2006/2007, o governo federal disponibilizou pela primeira vez R$ 10 bilhões em créditos para o Pronaf, mas foi no ano agrícola 2008/2009 que o valor dos contratos financiados ultrapassou a marca dos R$ 10 bilhões.

Nas safras 2012/2013 e 2013/2014, os agricultores familiares utilizaram todo o valor disponibilizado pelo governo. No ano agrícola seguinte (2015), o Pronaf atingiu o seu recorde, alcançando o valor de R$ 23,8 bilhões em operações.

Quando a safra finalizou, em junho de 2017, após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Roussef (PT), o nível diminuiu, com aproximadamente 1,6 milhão de contratos, movimentando mais de R$ 22,7 bilhões.

 

 

 

                                                                                     

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